As abelhas de uma colmeia, obreiras de um mel “rico”, embora “seco” (consigne-se
que a versão ao português não é transparente em relação ao fato de que o “estio”
ou a “secura” do título do poema é atributo do “mel” e não do ambiente, sob um pretenso
verão), resolvem dar um giro à volta de uma bica, para lograrem contorno à nomeada
aridez.
À volta da cena, uma aranha oportunista aproveita para lançar outro de
seus fios no momento em que um zangão, perto do frio cimento, já meio enredado
em sua teia, gira para dela se desvencilhar. Ao final, uma conclusão especulativa
do poeta a uma indagação a que ele mesmo se submete: o motivo para o frenético
movimento do zangão, em tão estreito labirinto, seria descobrir, senão um ponto
de fuga, “pelo menos o fim da escuridão”.
J.A.R. – H.C.
A. R. Ammons
(1926-2001)
Drought
Bees turn in fire
of dry-rich honey,
visit the faucet
for the left,
crescent
drop: below de faucet
by the cool cement a
webbed bumblebee
spins:
the spider, whilom
serene,
attacks to feed
another filament in:
I
can’t understand
for a minute why
the bumblebee
works so hard into
the
straitening maze:
but Lord I know why:
it’s to find if not flight
the far end of the
dark.
Abelhas no Verão
(Britt Freda: pintora
norte-americana)
Estio
Abelhas girando em
fogo
de generoso mel,
buscando a fonte
pela gota que cresce
e cai: logo abaixo
no cimento frio
um zangão emaranhado
rodopia:
a aranha, serena até
agora,
ataca e alimenta
outro de seus fios:
eu
por um minuto não
consigo
entender por que
motivo
este zangão
se move tanto em
tão estreito
labirinto:
mas Deus, eu sei:
procura descobrir se
não a fuga
pelo menos o fim da
escuridão.
Referência:
AMMONS, A. R. Drought / Estio. Tradução
de Celso Japiassu. In: KEYS, Kerry Shawn (Ed.). Quingumbo: new north american poetry / nova poesia norte-americana.
Antologia bilíngue. São Paulo, SP: Escrita, 1980. Em inglês: p. p. 94; em
português: p. 95.
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