Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 18 de junho de 2020

João-Francisco Duarte Jr. - Porto

Eis outro poema sob a forma de prosa, a retratar o ente lírico postado num cais de porto imaginário, a “prantear” um “rio prateado”, prospectando suas águas com lunetas de efeito inglório, lançando barcos de resgate a alguém que somente lhe envia, pelo mar, garrafas com algumas mensagens, de todo modo tão reclamadas, precisas ao expectante.

O arranjo das palavras de Duarte resulta bastante feliz, pois, a par de evidenciarem o sentido último de sua mensagem – um sonho de que alguém distante regresse à sua presença para aplacar-lhe a solidão, em vez de apenas lhe enviar simples mensagens –, submete toda a visão a um tema, digamos assim, náutico ou marinho: barcos, afogamentos, lunetas, constelações como bússolas, margens de rio, navegação, inundações e, claro, o porto que dá título ao poema.

J.A.R. – H.C.

João-Francisco Duarte Jr.
(n. 1953)

Porto

Me posto no porto que na cidade não há, para dali lançar meus inúteis barcos de resgate. Onde te levaram as águas de mim desatadas? Sangria tinta em desespero que afoga a minha espera.

Ilhas naufragadas ou rotas criadas ao mar. Que lunetas te alcançam, sob estrelas consteladas?

Às margens de meu sonho continuam chegando tuas garrafas, com as mensagens de que preciso. Contudo, não saberia lançar-me em errante navegação. Apenas sei correr este rio pra(n)teado. No leito da poesia, inundando a solidão.

(1981)

Um dia de verão em Giudecca
(John Singer Sargent: pintor ítalo-americano)

Referência:

DUARTE JR., João-Francisco. Porto. In: BRITO, Heládio; MORAIS, Regis de et al. Oficina: exercícios do ofício da poesia. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 2001. p. 89. (Edição Comemorativa Limitada)

Nenhum comentário:

Postar um comentário