O poeta norte-irlandês mostra com um exemplo contumaz o que seriam as
práticas britânicas no momento de expansionismo de seu império durante o século
XVIII, a alongar-se sobre as terras da América do Norte, mais exatamente sobre
a região dos Grandes Lagos, nas imediações onde, hoje, situa-se a
capital do Canadá, Ottawa.
Para entender o sentido do poema de Muldoon, julgo importante a leitura
da nota postada pelo editor da obra em referência, que mais abaixo transcrevo
em nosso idioma: os britânicos passaram a expor mantas infectadas em direção aos
indígenas locais, para inocular sobre eles o vírus da varíola e assim
dizimá-los e às suas forças, pressionando o seu líder maior, Pontiac, a firmar
um termo de paz.
J.A.R. – H.C.
Paul Muldoon
(n. 1951)
Meeting the British
We met the British in
the dead of winter.
The sky was lavender
and the snow
lavender-blue.
I could hear, far
below,
the sound of two
streams coming together
(both were frozen
over)
and, no less strange,
myself calling out in
French
across that forest-
clearing. Neither
General Jeffrey Amherst (*)
nor Colonel Henry
Bouquet
could stomach our
willow-tobacco.
As for the unusual
scent when the
Colonel shook out his hand-
kerchief: C’est la lavande,
une fleur mauve comme le ciel.
They gave us six
fishhooks
and two blankets
embroidered with smallpox.
(1987)
Rubor invernal polvilhado de
estrelas azul lavanda
(Angela Whitehouse:
artista inglesa)
Conhecendo os Britânicos
Conhecemos os
britânicos no auge do inverno.
Havia um tom de lavanda
no céu
e mesmo a neve exibia
um azul-lavanda.
Podia ouvir, muito
distante,
o som de dois riachos
que se uniam
(ambos estavam
congelados)
e, não menos
estranho,
meu nome sendo chamado
em francês
através daquela
clareira
na floresta. Nem o
General Jeffrey Amherst,
tampouco o Coronel Henry
Bouquet puderam
tolerar nosso tabaco
de casca de salgueiro.
Bem assim o incomum
aroma que se desprendeu
quando o Coronel
sacudiu o seu lenço
de mão: É a lavanda,
uma flor púrpura como o céu.
Eles nos deram seis
anzóis
e duas ornadas mantas com varíola.
(1987)
Nota do Editor da Obra em Referência:
(*) Comandante em chefe das forças
britânicas na Guerra Franco-Indígena (1754-63), ocasião em que lutou contra a
França e seus aliados nativos americanos. Durante a Rebelião de Pontiac,
liderada pelo chefe Pontiac de Ottawa na região dos Grandes Lagos, Amherst
escreveu ao oficial britânico Coronel Bouquet: “Não se poderia cogitar em
enviar a varíola em direção àquelas tribos de índios desafetas?” Bouquet
replicou: “Tentarei inocular os índios por meio de mantas que possam cair em
suas mãos, tomando o cuidado para não contrair a doença”, ao que Amherst redarguiu:
“Você fará bem em tentar inocular os índios por meio de cobertores, bem como pelo
emprego de todos os outros métodos que possam servir para extirpar essa raça
execrável”. Aparentemente, tal foi um dos planos, muito similar a outros
tantos, que os oficiais britânicos tentaram frente aos nativos americanos na área,
jamais expostos à varíola, sendo, por conseguinte, mortos pela doença entre
1763-64. Em consequência, Pontiac ultimou um tratado de paz com os britânicos
em julho de 1766.
Referência:
MULDOON, Paul. Meeting the british. In:
GREENBLATT, Stephen (General Editor). The
norton anthology of english literature. 8th. Edition. Vol. 2. New York, NY;
London, EN: W. W. Norton & Company, 2006. p. 2.869-2.870.
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