Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Paul Muldoon - Conhecendo os Britânicos

O poeta norte-irlandês mostra com um exemplo contumaz o que seriam as práticas britânicas no momento de expansionismo de seu império durante o século XVIII, a alongar-se sobre as terras da América do Norte, mais exatamente sobre a região dos Grandes Lagos, nas imediações onde, hoje, situa-se a capital do Canadá, Ottawa.

Para entender o sentido do poema de Muldoon, julgo importante a leitura da nota postada pelo editor da obra em referência, que mais abaixo transcrevo em nosso idioma: os britânicos passaram a expor mantas infectadas em direção aos indígenas locais, para inocular sobre eles o vírus da varíola e assim dizimá-los e às suas forças, pressionando o seu líder maior, Pontiac, a firmar um termo de paz.

J.A.R. – H.C.

Paul Muldoon
(n. 1951)

Meeting the British

We met the British in the dead of winter.
The sky was lavender

and the snow lavender-blue.
I could hear, far below,

the sound of two streams coming together
(both were frozen over)

and, no less strange,
myself calling out in French

across that forest-
clearing. Neither General Jeffrey Amherst (*)

nor Colonel Henry Bouquet
could stomach our willow-tobacco.

As for the unusual
scent when the Colonel shook out his hand-

kerchief: C’est la lavande,
une fleur mauve comme le ciel.

They gave us six fishhooks
and two blankets embroidered with smallpox.

(1987)

Rubor invernal polvilhado de
estrelas azul lavanda
(Angela Whitehouse: artista inglesa)

Conhecendo os Britânicos

Conhecemos os britânicos no auge do inverno.
Havia um tom de lavanda no céu

e mesmo a neve exibia um azul-lavanda.
Podia ouvir, muito distante,
o som de dois riachos que se uniam
(ambos estavam congelados)

e, não menos estranho,
meu nome sendo chamado em francês

através daquela clareira
na floresta. Nem o General Jeffrey Amherst,

tampouco o Coronel Henry Bouquet puderam
tolerar nosso tabaco de casca de salgueiro.

Bem assim o incomum aroma que se desprendeu
quando o Coronel sacudiu o seu lenço

de mão: É a lavanda,
uma flor púrpura como o céu.

Eles nos deram seis anzóis
e duas ornadas mantas com varíola.

(1987)

Nota do Editor da Obra em Referência:

(*) Comandante em chefe das forças britânicas na Guerra Franco-Indígena (1754-63), ocasião em que lutou contra a França e seus aliados nativos americanos. Durante a Rebelião de Pontiac, liderada pelo chefe Pontiac de Ottawa na região dos Grandes Lagos, Amherst escreveu ao oficial britânico Coronel Bouquet: “Não se poderia cogitar em enviar a varíola em direção àquelas tribos de índios desafetas?” Bouquet replicou: “Tentarei inocular os índios por meio de mantas que possam cair em suas mãos, tomando o cuidado para não contrair a doença”, ao que Amherst redarguiu: “Você fará bem em tentar inocular os índios por meio de cobertores, bem como pelo emprego de todos os outros métodos que possam servir para extirpar essa raça execrável”. Aparentemente, tal foi um dos planos, muito similar a outros tantos, que os oficiais britânicos tentaram frente aos nativos americanos na área, jamais expostos à varíola, sendo, por conseguinte, mortos pela doença entre 1763-64. Em consequência, Pontiac ultimou um tratado de paz com os britânicos em julho de 1766.

Referência:

MULDOON, Paul. Meeting the british. In: GREENBLATT, Stephen (General Editor). The norton anthology of english literature. 8th. Edition. Vol. 2. New York, NY; London, EN: W. W. Norton & Company, 2006. p. 2.869-2.870.

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