Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Keki Daruwalla - Observatório da Cobertura

Daruwalla, poeta indiano, acha-se em conexão com a obra de Jorge Luis Borges (1899-1986) por meio deste poema: quem desconhece que os escritos do argentino são pejados de simbologias, alegorias, analogias, metáforas sobre a multiplicação das coisas no universo, particularmente sob a conjunção de espelhos refletores, capazes de levar uma imagem qualquer a um remoto ponto de fuga, multiplicando-a ao infinito?!

Como se um astrônomo fosse Borges, a vasculhar em sua objetiva os mistérios do universo, miríades de estrelas e vastidões desguarnecidas entre elas: afirma Daruwalla que a mente do autor portenho é tão ampla, tão saturada de vastidões quanto o universo que, enquanto vivo, esteve ele a confrontar, querendo com isso certamente reafirmar a enorme erudição de Borges, em grande parte fruto de sua paciência de leitor voraz, a multiplicar os enredos das histórias lidas em outras tantas histórias – “dando novos mundos ao mundo”, como diria Camões.

J.A.R. – H.C.

Keki Daruwalla
(n. 1937)

Roof Observatory

He moved past the slab of damp air over damp ground,
past the two whining hinges of the rusted gate,
past rows of eucalypti with black leaves
and white leaves – moon on one, moon-shadow on the other;
past the duplicate patios, on to the double stairs
and into the hall of mirrors where he found himself
infinitely mirrored in a still moment of receding reflections.
Then on to the circular antechamber
with only himself and his shadow in attendance
to the roof where the double desolation of the garden
and the circular silence of the villa interior
sank into him like nightwaters filling up a forgotten tank;
till stepping on to a ladder, bone and ladder creaking,
he climbed into the quiet of his observatory;
where the solitudes were so large
that all else diminished in scale,
where the telescope hummed with planets
and the firmament fermented with astral fires,
and the glass lid on the barrel
multiplied the black spaces between the stars;
where at last, he thought, he was at one with,
and yet confronting, the universe.

But even there, Borges, the universe of your mind
was as large as the universe you were looking into.

Paisagem de Greenwich a partir
da Cobertura do Observatório
(Dennis Creffield: pintor inglês)

Observatório da Cobertura

Ele passou pelos bloquetes de aspecto úmido sobre o úmido solo,
passou pelas duas dobradiças do portão enferrujado,
passou pelas fileiras de eucaliptos com folhas brancas e negras –
o brilho da lua sobre aquelas, a sombra da lua sobre estas;
passou pelos pátios duplicados, subiu pelas escadas duplas
e entrou no átrio dos espelhos, onde se viu multiplicado
ao infinito num quieto momento de reflexões em fuga.
Em seguida, adentrou a antecâmara circular,
apenas com ele e a sua sombra a fazerem companhia
ao teto, onde a dupla desolação do jardim
e o silêncio circular do interior da herdade nele se fundiram,
como águas noturnas a transbordar num tanque esquecido;
por fim, dirigiu-se a uma escada, seus ossos e a escada aos estalidos,
subindo assim até a quietude de seu observatório;
onde as solidões eram tão vastas
que tudo mais diminuía em escala,
onde o telescópio zunia com os planetas
e o firmamento fermentava com os fogos astrais,
e o tampo da lente no cilindro
multiplicava os espaços negros entre as estrelas;
onde, afinal, ele pensava estar em harmonia como universo,
ainda que o confrontando.

Mas mesmo ali, Borges, o universo de tua mente
era tão amplo quanto o universo que estavas buscando.

Referência:

DARUWALLA, Keki. Roof observatory. In: THAYIL, Jeet (Ed.). 60 indian poets. New Delhi, IN: Penguin Books India, 2008. p. 152.

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