A natureza aparece obstinada na figura da raposa que, mesmo perdendo uma
das patas na armadilha que provavelmente fora maquinada para pegar uma lebre –
e o fato é que logrou pegá-la em dada ocasião –, ainda assim conseguiu arrebatá-la
viva, deixando, na fuga, vestígios de sangue e de suas três patas restantes
sobre a neve imaculadamente branca.
Convergindo a mensagem para um sentido mais humano, muitas vezes temos
que fazer jorrar lágrimas de sangue para conseguir alcançar algum objetivo mais
árduo – o que, talvez, mais tarde, poderá nos levar a atribuir-lhe maior peso
em nossas conquistas. De qualquer modo, permanece a máxima de Pessoa: “Tudo
vale a pena se a alma não é pequena”.
J.A.R. – H.C.
Jacques Prévert
(1900-1977)
Les Prodiges de la Liberté
Entre les dents d'un
piège
La patte d'un renard
blanc
Et du sang sur la
neige
Le sang du renard
blanc
Et des traces sur la
neige
Les traces du renard
blanc
Qui s’enfuit sur
trois pattes
Dans le soleil
couchant
Avec entre les dents
Un lièvre encore
vivant.
A raposa e a lebre
(Johann B. Hofner:
pintor alemão)
Prodígios da Liberdade
Nos dentes da
armadilha,
a pata da raposa.
E o sangue sobre a
neve,
o sangue da raposa.
E marcas sobre a
neve,
as marcas da raposa
que foge com três
patas,
sob o sol já poente,
levando entre seus
dentes
uma lebre ainda viva.
Referência:
PREVÉRT, Jacques. Les prodiges de la
liberte / Prodígios da liberdade. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. In:
ANDRADE, Carlos Drummond. Poesia
Traduzida. Edição bilíngue. Organização e notas de Augusto Massi e Júlio
Castañon Guimarães. São Paulo, SP: 7Letras; Cosac Naify, 2011. Em francês: p. 306;
em português: p. 307. (Coleção ‘Ás de Colete’; n. 20)
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