Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Jacques Prévert - Prodígios da Liberdade

A natureza aparece obstinada na figura da raposa que, mesmo perdendo uma das patas na armadilha que provavelmente fora maquinada para pegar uma lebre – e o fato é que logrou pegá-la em dada ocasião –, ainda assim conseguiu arrebatá-la viva, deixando, na fuga, vestígios de sangue e de suas três patas restantes sobre a neve imaculadamente branca.

Convergindo a mensagem para um sentido mais humano, muitas vezes temos que fazer jorrar lágrimas de sangue para conseguir alcançar algum objetivo mais árduo – o que, talvez, mais tarde, poderá nos levar a atribuir-lhe maior peso em nossas conquistas. De qualquer modo, permanece a máxima de Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

J.A.R. – H.C.

Jacques Prévert
(1900-1977)

Les Prodiges de la Liberté

Entre les dents d'un piège
La patte d'un renard blanc
Et du sang sur la neige
Le sang du renard blanc
Et des traces sur la neige
Les traces du renard blanc
Qui s’enfuit sur trois pattes
Dans le soleil couchant
Avec entre les dents
Un lièvre encore vivant.

A raposa e a lebre
(Johann B. Hofner: pintor alemão)

Prodígios da Liberdade

Nos dentes da armadilha,
a pata da raposa.
E o sangue sobre a neve,
o sangue da raposa.
E marcas sobre a neve,
as marcas da raposa
que foge com três patas,
sob o sol já poente,
levando entre seus dentes
uma lebre ainda viva.

Referência:

PREVÉRT, Jacques. Les prodiges de la liberte / Prodígios da liberdade. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. In: ANDRADE, Carlos Drummond. Poesia Traduzida. Edição bilíngue. Organização e notas de Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães. São Paulo, SP: 7Letras; Cosac Naify, 2011. Em francês: p. 306; em português: p. 307. (Coleção ‘Ás de Colete’; n. 20)

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