Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Ronald de Carvalho - Cheiro de Terra

Muito distintamente do que ocorre em outros versos, pejados de uma dicção mais enredada e labiríntica – visto que capturados pela força dos silogismos neles declinados –, afirma-nos Carvalho haver certa fluência em outros tantos versos, que muito se parece ao caráter ingênito de fatos que concernem à natureza, como pingos d’água caindo das folhas e pétalas de flores, depois da chuva, deixando o solo com cheiro de “telha molhada”.

Tal naturalidade confronta, ainda, com outros matizes artificiais que costumamos observar em poemas de escolas literárias transatas: premidos pelas exigências de métrica, rima e sonoridade, o poeta de tal forma confrange o poema numa fôrma que o resultado resulta algo postiço. Se consegue, a despeito disso, um efeito límpido sobre os versos, aí então podemos dizer que a poética ascendeu aos páramos.

J.A.R. – H.C.

Ronald de Carvalho
(1893-1935)

Cheiro de Terra

Há versos que são como um jardim depois da chuva:
deixam em nós a sensação de água caindo,
caindo em bolhas trêmulas da ponta das folhas,

escorrendo da pele macia das pétalas,
pingando nos galhos lavados, gota a gota,
pingando no ar...

Versos que cheiram a terra molhada,
versos que são como um jardim depois da chuva...

Dia da Terra 2020
(Tatiana Iliina: pintora russa)

Referência:

CARVALHO, Ronald de. Cheiro de terra. In: TORRES, Alexandre Pinheiro (Seleção, Introdução e Notas). Antologia da poesia brasileira: os modernistas. v. III. Porto, PT: Livraria Chardron de Lello & Irmão Editores, 1984. p. 21.

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