Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Armindo Trevisan - Elogio do Papel

Por meio da palavra escrita na folha em branco – óbvio está que o leitor há de assimilar a expressão de modo atualizado aos dias que correm, haja vista os softwares para digitação de textos em desktops e notebooks –, o poeta aspira a um “sonho de eternidade”, para que, depois de haver partido, se possa ainda ouvir o seu “sopro entre os plátanos”.

Pois é na palavra – fonte de riso, tristeza, sonho e amor – que, a qualquer tempo, palpita a “pele abstrata” do corpo que a concebeu – esteja ele vivo ou não –, não se restringindo o sentido de posse ao emitente original, mas a todos que com ela entrem em contato: se na estática da palavra impressa há algo como a morte, no peso do pensamento ou do sentimento há dinâmica suficiente para fazê-la arrancar voo e perpetuar-se.

J.A.R. – H.C.

Armindo Trevisan
(n. 1933)

Elogio do Papel

Sobre o papel poroso ressuscito
a brancura do nada: eis a palavra.

Dela brota a tristeza, o riso, o sonho,
e o amor que agita os peixes nos abismos.

Sobre o papel palpita a pele abstrata
do corpo que não tenho, e é de todos:

um único destino feito história,
sonho de eternidade que nos honra.

Escreve, filho, sobre a folha em branco!
Com letras mortas grava ali teu voo.

Quando partires, mesmo estando vivo,
ressoará teu sopro entre os plátanos.

Em: “A Serpente na Grama” (2001)

Os Grandes Plátanos
(Vincent van Gogh: pintor holandês)

Referência:

TREVISAN, Armindo. Elogio do papel. In: __________. Nova antologia poética: 1967-2001. Porto Alegre, RS: Sulina, 2001. p. 195.

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