Muitas das coisas que os humanos criam, como variedades de arte ou mesmo
de objetos utilitários, têm respaldo em formas da natureza: vejam-se, por
exemplo, as pinturas rupestres em cavernas como as de Lascaux ou de Chauver,
ambas em França. É o estágio imediato que conecta o ser humano às coisas do meio-ambiente,
orgânico ou inorgânico, em que imerso.
Mas há coisas que são criadas e não se explicam desse modo, vale dizer,
no caso do poema, como o cervo esculpido em “imitatio” aos cervos reais à volta:
reporta-se Hass a uma delas, uma dama criada do barro azul-chumbo de um riacho,
que não encontra explicação naquilo que já fora vivenciado pela criança – que
recolheu o material para dar forma à imagem –, tampouco pela mulher que a modelou.
De onde essa dama emergiu até o plano da tangibilidade? É possível se recorrer
à teoria freudiana do inconsciente para explicá-la?...
J.A.R. – H.C.
Robert Hass, como
[Robinson] Jeffers [1887-1962], é uma poeta californiano. Neste poema, um
objeto (a estatueta de argila) e uma paisagem típica da Califórnia são
simultaneamente apresentados. (MILOSZ, 1998, p. 61)
Robert Hass
(n. 1941)
The Image
The child brought
blue clay from the creek
and the woman made
two figures: a lady and a deer.
At that season deer
came down from the mountain
and fed quietly in
the redwood canyons.
The woman and the
child regarded the figure of the lady,
the crude
roundnesses, the grace, the coloring like shadow.
They were not sure
where she came from,
except the child’s fetching
and the woman’s hands
and the lead-blue
clay of the creek
where the deer
sometimes showed themselves at sundown.
Argila Azul
(Evgeny Guselnikov:
pintor russo)
A Imagem
A criança trouxe
argila azul do riacho
com o que a mulher
fez duas figuras: uma dama e um cervo.
Naquela época, os
cervos desciam da montanha
e se alimentavam
tranquilamente nos desfiladeiros de
sequoias.
A mulher e a criança passaram
a observar a figura da dama,
a sua imperfeita
harmonia, a graça, a coloração feito uma sombra.
Eles não estavam
seguros de onde ela viera,
exceto o empenho da
criança e as mãos da mulher,
além da argila azul-chumbo
do riacho,
onde o cervo às vezes
se mostrava ao pôr do sol.
Referência:
HASS, Robert. The image. In: MILOSZ,
Czeslaw (Ed.). A book of luminous
things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY:
Houghton Mifflin Harcourt, 1998. p. 62.
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