Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 14 de junho de 2020

Robert Hass - A Imagem

Muitas das coisas que os humanos criam, como variedades de arte ou mesmo de objetos utilitários, têm respaldo em formas da natureza: vejam-se, por exemplo, as pinturas rupestres em cavernas como as de Lascaux ou de Chauver, ambas em França. É o estágio imediato que conecta o ser humano às coisas do meio-ambiente, orgânico ou inorgânico, em que imerso.

Mas há coisas que são criadas e não se explicam desse modo, vale dizer, no caso do poema, como o cervo esculpido em “imitatio” aos cervos reais à volta: reporta-se Hass a uma delas, uma dama criada do barro azul-chumbo de um riacho, que não encontra explicação naquilo que já fora vivenciado pela criança – que recolheu o material para dar forma à imagem –, tampouco pela mulher que a modelou. De onde essa dama emergiu até o plano da tangibilidade? É possível se recorrer à teoria freudiana do inconsciente para explicá-la?...

J.A.R. – H.C.

Robert Hass, como [Robinson] Jeffers [1887-1962], é uma poeta californiano. Neste poema, um objeto (a estatueta de argila) e uma paisagem típica da Califórnia são simultaneamente apresentados. (MILOSZ, 1998, p. 61)

Robert Hass
(n. 1941)

The Image

The child brought blue clay from the creek
and the woman made two figures: a lady and a deer.
At that season deer came down from the mountain
and fed quietly in the redwood canyons.
The woman and the child regarded the figure of the lady,
the crude roundnesses, the grace, the coloring like shadow.
They were not sure where she came from,
except the child’s fetching and the woman’s hands
and the lead-blue clay of the creek
where the deer sometimes showed themselves at sundown.

Argila Azul
(Evgeny Guselnikov: pintor russo)

A Imagem

A criança trouxe argila azul do riacho
com o que a mulher fez duas figuras: uma dama e um cervo.
Naquela época, os cervos desciam da montanha
e se alimentavam tranquilamente nos desfiladeiros de sequoias.
A mulher e a criança passaram a observar a figura da dama,
a sua imperfeita harmonia, a graça, a coloração feito uma sombra.
Eles não estavam seguros de onde ela viera,
exceto o empenho da criança e as mãos da mulher,
além da argila azul-chumbo do riacho,
onde o cervo às vezes se mostrava ao pôr do sol.

Referência:

HASS, Robert. The image. In: MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin Harcourt, 1998. p. 62.

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