Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 16 de junho de 2020

Max Jacob - Instantâneo do Paraíso

Para este poema em prosa, do autor francês de origem judaica, não encontrei, nem em livros nem na grande rede, o texto original que lhe diga respeito. Mas pouco importa: o interessante é o retrato imaginário que Jacob projeta para um instantâneo ocorrido no paraíso, que pouco lembra os céus – como na concepção mais comumente difundida –, senão uma visão bem terrena de dois consagrados – “imagens de Lilliput” – com a face voltada para Deus.

Um detalhe chama a atenção na descrição do instantâneo: o fato de que os dois santos vestem-se, um, com hábito monacal azul, e outro, vermelho, cores que, juntamente ao branco, fazem parte do pavilhão francês. Outras imagens das quais se poderiam deduzir associações que, de todo modo, não as depreendi, são a presença de um elefante na cena, além de dois inferidos pinheiros “ruivos”, com ramagens amarelas e negras. Alguém se habilitaria a desvendar esse enigma do paraíso?

J.A.R. – H.C.

Max Jacob
(1876-1944)

Instantâneo do Paraíso

Duas árvores num recanto retangular se erguiam tão alto que se lhes não via o fim. Somente se percebia a junção dos ramos em suas bifurcações. E eram como alfinetes, inteiramente ruivos esses ramos, e amarelos e negros. E entre as duas árvores havia o branco do papel, o creme envelhecido do infinito, esse infinito que entre as duas árvores tinha a forma de um elefante chato. E em baixo dois santos, imagens de Lilliput, folhas de erva, se tanto, e magros como rugas, um de vermelho, outro de azul, de barbas sujas e nuca pelada, e que, com suas auréolas, caminhavam, a cabeça erguida, para Deus.

Dois Monges se Curvando
(Stanley Roseman: artista norte-americano)

Referência:

JACOB, Max. Instantâneo do paraíso. Tradução de Sérgio Milliet. In: MILLIET, Sérgio (Seleção e Notas). Obras-primas da poesia universal. 3. ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, 1957. p. 266.

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