Para este poema em prosa, do autor francês de origem judaica, não
encontrei, nem em livros nem na grande rede, o texto original que lhe diga
respeito. Mas pouco importa: o interessante é o retrato imaginário que Jacob
projeta para um instantâneo ocorrido no paraíso, que pouco lembra os céus –
como na concepção mais comumente difundida –, senão uma visão bem terrena de dois
consagrados – “imagens de Lilliput” – com a face voltada para Deus.
Um detalhe chama a atenção na descrição do instantâneo: o fato de que os
dois santos vestem-se, um, com hábito monacal azul, e outro, vermelho, cores
que, juntamente ao branco, fazem parte do pavilhão francês. Outras imagens das
quais se poderiam deduzir associações que, de todo modo, não as depreendi, são
a presença de um elefante na cena, além de dois inferidos pinheiros “ruivos”,
com ramagens amarelas e negras. Alguém se habilitaria a desvendar esse enigma
do paraíso?
J.A.R. – H.C.
Max Jacob
(1876-1944)
Instantâneo do Paraíso
Duas árvores num
recanto retangular se erguiam tão alto que se lhes não via o fim. Somente se
percebia a junção dos ramos em suas bifurcações. E eram como alfinetes, inteiramente
ruivos esses ramos, e amarelos e negros. E entre as duas árvores havia o branco
do papel, o creme envelhecido do infinito, esse infinito que entre as duas
árvores tinha a forma de um elefante chato. E em baixo dois santos, imagens de
Lilliput, folhas de erva, se tanto, e magros como rugas, um de vermelho, outro
de azul, de barbas sujas e nuca pelada, e que, com suas auréolas, caminhavam, a
cabeça erguida, para Deus.
Dois Monges se Curvando
(Stanley Roseman:
artista norte-americano)
Referência:
JACOB, Max. Instantâneo do paraíso.
Tradução de Sérgio Milliet. In: MILLIET, Sérgio (Seleção e Notas). Obras-primas da poesia universal. 3.
ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, 1957. p. 266.
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