No Amazonas jaz grande parte da biodiversidade da Amazônia, rio
caudaloso, que aos poucos vem sendo desvestido das florestas às suas margens,
rio das lendas indígenas, do boto rosa, rio-esperma de miríades de fecundações
insuspeitadas, rio de arraste moroso, rio-mar.
Ele é o tema deste poema de Neruda, inserto em seu “Canto Geral”,
repleto de panegíricos aos encantos da América Latina – sua terra, sua gente, suas
criações –, este continente que teima em ficar marcando passo no
subdesenvolvimento e na subserviência, apesar de todo o rico acervo natural à
disposição.
J.A.R. – H.C.
Pablo Neruda
(1904-1973)
Amazonas
Amazonas,
capital de las
sílabas del agua,
padre patriarca, eres
la eternidad secreta
de las fecundaciones,
te caen ríos como
aves, te cubren
los pistilos color de
incendio,
los grandes troncos
muertos te pueblan de perfume,
la luna no te puede
vigilar ni medirte.
Eres cargado con
esperma verde
como un árbol
nupcial, eres plateado
por la primavera
salvaje,
eres enrojecido de
maderas,
azul entre la luna de
las piedras,
vestido de vapor
ferruginoso,
lento como un camino
de planeta.
En: “Canto General” (1950)
Rio Amazonas
(Michael Frank:
pintor norte-americano)
Amazonas
Amazonas,
capital das sílabas
da água,
pai patriarca, és
a eternidade secreta
das fecundações,
caem-te rios como
aves, cobrem-te
os pistilos cor de
incêndio,
os grandes troncos
mortos povoam-te de perfume,
a lua não pode
vigiar-te nem medir-te.
És carregado de
esperma verde
como uma árvore
nupcial, és prateado
pela primavera
selvagem,
és avermelhado de
madeiras,
azul entre a lua das
pedras,
vestido de vapor
ferruginoso,
lento como um caminho
de planeta.
Em: “Canto Geral” (1950)
Referência:
NERUDA, Pablo. Amazonas. In:
__________. Antología poética.
Edición de Rafael Alberti. 1. ed. La Plata, AR: Planeta, nov. 1996. p. 119. (Ediciones
‘Planeta Bolsillo’)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário