Um poema interessante sobre o comportamento dos nova-iorquinos, que
costumam fugir às regras das comuns expressões empregadas quotidianamente, nos
relacionamentos e contatos informais entre as pessoas, especialmente nas
grandes cidades, cujo trato, no mais das vezes, é meramente incidental.
Mas julgo que as observações do poeta, nos dias que correm, valem não só
para os nova-iorquinos, como também para os moradores de cidades brasileiras,
São Paulo e Rio de Janeiro em especial, onde se percebe o estresse no rosto das
pessoas, e muito pouco espaço para um diálogo, ainda que curto, para desanuviar
a tensão imposta pela “marcha do mundo capitalista”.
J.A.R. – H.C.
Edward Field
(n. 1924)
New Yorkers
Everywhere else in
the country, if someone asks,
How are you? You are
required to answer,
like a phrase book,
Fine, and you?
Only in New York can
you say, Not so good, or even,
Rotten, and launch
into your miseries and symptoms,
then yawn and look
bored when they interrupt
to go into the usual
endless detail about their own.
Nodding mechanically,
you look at your watch.
Look, angel, I’ve got
to run, I’m late for my… uh…
uh… analyst. But
let’s definitely
get together soon.
In just as sincere a
voice as yours,
they come back with,
Definitely!
and both of you know
what that means,
Never.
Tarde no Madison Square: 1910
(Paul Cornoyer:
pintor norte-americano)
Nova-iorquinos
Em qualquer outro
lugar do país, se alguém lhe pergunta,
“Como você está?”,
você é levado a responder,
como num livro de expressões,
“Bem, e você?”.
Só em Nova York você
pode dizer, “Não tão bem”, ou mesmo,
“Péssimo”, e
lançar-se a seus tormentos e sintomas, então bocejar
e parecer entediado
quando lhe interrompem para entrar
nos detalhes,
habituais e intermináveis, sobre os seus próprios males.
Assentindo
mecanicamente, você olha para o relógio.
Veja, anjo, tenho que
correr, pois estou atrasado para o meu...
uh... uh... analista.
Mas, definitivamente, vamos
nos reunir em breve.
Numa voz tão sincera
quanto a sua,
replicam-lhe com, “Definitivamente!”,
embora todos saibam o
que isso significa:
“Nunca”.
Referência:
FIELD, Edward. New Yorkers. In:
KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 40.
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