Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Marina Tzvietáieva - Abro as veias

A poesia ampara-se da essencialidade do sangue: se a poetisa corta as veias, é ela que vaza irreprimível, enchendo bilhas e vasilhas. Mas cortar as veias é um ato de suicídio e, se para verter poesia, é necessário verter sangue, o ato de criação seria também um ato de destruição – ou melhor, de autodestruição.

Sob esse contexto, a arte poética revela-se uma arte do limite, do trânsito da vida para a morte, do instante para se manifestar o que há de mais interior à luz do dia, de extravasar tudo aquilo que cerceado está nas veias e artérias do poeta: trata-se, pois, de uma vocação aparentada da tragédia, no seu fluxo imparável e irrecuperável.

J.A.R. – H.C.

Marina Tzvietáieva
(1892-1941)

Вскрыла жилы

Вскрыла жилы: неостановимо,
Невосстановимо хлещет жизнь.
Подставляйте миски и тарелки!
Всякая тарелка будетмелкой,
Мискаплоской.

Через крайи мимо
В землю черную, питать тростник.
Невозвратно, неостановимо,
Невосстановимо хлещет стих.

6 января 1934

Coração partido em posição invertida
(Sarah Levy: pintora norte-americana)

Abro as veias

Abro as veias: irreprimível,
Irrecuperável, a vida vaza.
Ponham embaixo vasos e vasilhas!
Todas as vasilhas serão rasas,
Parcos os vasos.

Pelas bordas – à margem
Para os veios negros da terra vazia,
Nutriz da vida, irrecuperável,
Irreprimível, vaza a poesia.

6 de janeiro de 1934

Referências:

Em Russo

ЦВЕТАЕВОЙ, Марины.  Вскрыла жилы. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 fev. 2019.

Em Português

TZVIETÁIEVA, Marina. Abro as veias. Tradução de Augusto de Campos. In: CAMPOS, Augusto (Seleção e Tradução). Poesia da recusa. São Paulo, SP: Perspectiva, 2006. p. 165.

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