Num poema que bem reflete a sua estratégia de ideação metafórica, Simic reproduz
um rol de elementos disparatados agrupados por justaposição, ao qual se
sobrepõem versos que nos intrigam pelo absurdo, pelo ridículo ou pelo acento bizarro.
Por exemplo: como seriam “os olhos de alguém que, em breve, vai se afogar num
lago”?
Por demais evidente que o poema se constrói para tornar bem mais poderoso
o sentido que o poeta lhe quer atribuir, encerrado em suas derradeiras linhas, nas
quais se deduz a natureza espontânea e volátil da beleza: o que é belo não é
procurado, mas encontrado acidentalmente e facilmente perdido.
J.A.R. – H.C.
Charles Simic
(n. 1938)
The Altar
The plastic statue of
the Virgin
On top of a bedroom
dresser
With a blackened
mirror
From a bad-dream
grooming salon.
Two pebbles from the
grave of a rock star,
A small, grinning
windup monkey,
A bronze Egyptian
coin
And a red
movie-ticket stub.
A splotch of sunlight
on the framed
Communion photograph
of a boy
With the eyes of
someone
Who will drown in a
lake real soon.
An altar dignifying
the god of chance.
What is beautiful, it
cautions,
Is found accidentally
and not sought after.
What is beautiful is
easily lost.
Ante o Altar
(Firs Sergeevich
Zhuravlev: pintor russo)
O Altar
A estátua de plástico
da Virgem
Em cima de uma cômoda
de quarto
Com um espelho
enegrecido
De um salão de beleza
de pesadelo.
Dois seixos do túmulo
de uma estrela de rock,
Um pequeno e
sorridente macaco de corda,
Uma moeda egípcia de
bronze
E um canhoto vermelho
de um ingresso de cinema.
Uma mancha de luz
solar na emoldurada
Fotografia de
comunhão de um menino
Com os olhos de
alguém que
Em breve vai se afogar num lago.
Um altar a dignificar
o deus do acaso.
O que é belo,
advirta-se,
Acidentalmente se encontra
e não se busca.
O que é belo se perde
facilmente.
Referência:
SIMIC, Charles. The altar. In: KEILLOR,
Garrison (Selection and Introduction). Good
poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 63.
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