Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Charles Simic - O Altar

Num poema que bem reflete a sua estratégia de ideação metafórica, Simic reproduz um rol de elementos disparatados agrupados por justaposição, ao qual se sobrepõem versos que nos intrigam pelo absurdo, pelo ridículo ou pelo acento bizarro. Por exemplo: como seriam “os olhos de alguém que, em breve, vai se afogar num lago”?

Por demais evidente que o poema se constrói para tornar bem mais poderoso o sentido que o poeta lhe quer atribuir, encerrado em suas derradeiras linhas, nas quais se deduz a natureza espontânea e volátil da beleza: o que é belo não é procurado, mas encontrado acidentalmente e facilmente perdido.

J.A.R. – H.C.

Charles Simic
(n. 1938)

The Altar

The plastic statue of the Virgin
On top of a bedroom dresser
With a blackened mirror
From a bad-dream grooming salon.

Two pebbles from the grave of a rock star,
A small, grinning windup monkey,
A bronze Egyptian coin
And a red movie-ticket stub.

A splotch of sunlight on the framed
Communion photograph of a boy
With the eyes of someone
Who will drown in a lake real soon.

An altar dignifying the god of chance.
What is beautiful, it cautions,
Is found accidentally and not sought after.
What is beautiful is easily lost.

Ante o Altar
(Firs Sergeevich Zhuravlev: pintor russo)

O Altar

A estátua de plástico da Virgem
Em cima de uma cômoda de quarto
Com um espelho enegrecido
De um salão de beleza de pesadelo.

Dois seixos do túmulo de uma estrela de rock,
Um pequeno e sorridente macaco de corda,
Uma moeda egípcia de bronze
E um canhoto vermelho de um ingresso de cinema.

Uma mancha de luz solar na emoldurada
Fotografia de comunhão de um menino
Com os olhos de alguém que
Em breve vai se afogar num lago.

Um altar a dignificar o deus do acaso.
O que é belo, advirta-se,
Acidentalmente se encontra e não se busca.
O que é belo se perde facilmente.

Referência:

SIMIC, Charles. The altar. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 63.

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