Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Jean de Sponde - Mas todos vão morrer...

A vida é como uma centelha: instável, lépida e contingente. E a sua dinâmica compõe um evoluir ritmado com o encadeamento da morte. É a lição da morte que arremata o ciclo completo da vida, extremo onde deveremos todos finar. Tal é a mensagem de amarga ironia que Sponde procura levar até o leitor.

Nota-se no poema um interessante antagonismo, comum entre os poetas barrocos, consistente em tornar implícito ou abrumado o desejo de viver, a aspiração ao deleite dos sentidos, enquanto a inevitabilidade da morte é o que se mostra em primeiro plano, contundente e pronunciada.

J.A.R. – H.C.

Jean de Sponde
(1557-1595)

Mais si faut-il mourir...

Mais si faut-il mourir, et la vie orgueilleuse,
Qui brave de la mort, sentira ses fureurs;
Les Soleils hâleront ces journalières fleurs,
Et le temps crèvera cette ampoule venteuse.

Ce beau flambeau qui lance une flamme fumeuse,
Sur le vert de la cire éteindra ses ardeurs;
L’huile de ce Tableau ternira ses couleurs,
Et les flots se rompront à la rive écumeuse.

J’ai vu ces clairs éclairs passer devant mes yeux,
Et le tonnerre encor qui gronde dans les Cieux,
Où d’une ou d’autre part éclatera l’orage,

J’ai vu fondre la neige et ses torrents tarir,
Ces lions rugissants je les ai vu sans rage:
Vivez, hommes, vivez, mais si faut-il mourir.

A Balsa da Medusa
 (Théodore Géricault: pintor francês)

Mas todos vão morrer...

Mas todos vão morrer, e esta vida orgulhosa,
Que insulta a morte, vai sentir os seus furores;
Os sóis hão de queimar as efêmeras flores,
E o tempo romperá esta ampola vaidosa.

E a tocha que difunde uma chama fumosa,
Na cera apagará do pavio os ardores;
O óleo deste painel perderá suas cores,
E a onda se quebrará junto à praia espumosa.

Dos relâmpagos vi fuzilar o clarão,
E a trovoada que ruge ainda na amplidão,
Onde rebentará, perto ou longe, a tormenta.

A neve que se esfaz, vi deixar de correr
E vi mais de um leão, que agora se apascenta:
Vivei, homens, vivei, mas todos vão morrer.

Referência:

SPONDE, Jean de. Mais si faut-il mourir... / Mas todos vão morrer... Tradução de Cláudio Veiga. In: VEIGA, Cláudio (Organização e Tradução). Antologia da poesia francesa: do século IX ao século XX. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1991. Em francês: p. 98; em português: p. 99.

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