Veja você, internauta, que as minhas melhores intenções em sintetizar
algo sobre os poemas que, dia a dia, posto neste bloguinho, são vãs. Afirma-nos
Hilst que são inúteis as tentativas de se explicar um poema, tanto mais que o
ofício do poeta é um exílio sobre a terra – e, talvez, o silêncio melhor
exprima o que lhe condiciona o ofício.
Mas eu resisto, sobretudo em razão de as palavras serem uma das poucas
formas que temos para expressar nossos sentimentos, longe das quais tudo são
apenas expressões que não são capazes de promover a necessária catarse que a
razão sempre exige.
A língua é matéria vibrátil
É triste explicar um
poema. É inútil também.
Um poema não se
explica. É como um soco.
E, se for perfeito,
te alimenta para toda a vida.
Um soco certamente te
acorda e, se for em
cheio, faz cair tua
máscara, essa frívola,
repugnante, empolada
máscara que tentamos
manter para atrair ou
assustar. Se pelo menos
um amante da poesia
foi atingido e levantou de
cara limpa depois de
ler minhas esbraseadas
evidências líricas,
escreva apenas isso: fui
atingido. E aí sim
vou beber, porque há de ser
festa aquilo que na
Terra me pareceu exílio:
o ofício de poeta. (HILST,
2012, p. 65)
Em: “Cascos & Carícias & Outras
Crônicas” (1998)
J.A.R. – H.C.
Hilda Hilst
(1930-2004)
Árias pequenas. Para bandolim - XIII
Túlio: há palavras
escuras,
Guardadas, duros
ramos
Dentro das arcas.
Roxura
Por exemplo. É ânsia.
Convém lembrá-las
Porque me faço
mordente
Nesta minha armadura,
Soberbosa, cansada
Do teu silêncio
E do laivoso das
gentes.
Há palavras escuras.
Hederoso, por
exemplo.
É abundante de heras.
Habena, que é
chicote.
E há uma palavra rara
Em milenar repouso
No teu peito duro.
Convém lembrá-la,
Túlio.
Do amor é que te
falo.
Acorda a tua palavra.
Usa o chicote
Antes que eu me faça
escura.
Em: “Júbilo, memória, noviciado da
paixão” (1974)
T. S. Eliot & Black Elk
(Lori Lorion: pintora
norte-americana)
Referência:
HILST, Hilda. Árias pequenas. Para
bandolim - XIII. In: __________. Uma
superfície de gelo ancorada no riso: antologia. Seleção, organização e
apresentação de Luisa Destri. São Paulo, SP: Globo, 2012. p. 66
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