Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Hilda Hilst - Árias pequenas. Para bandolim - XIII

Veja você, internauta, que as minhas melhores intenções em sintetizar algo sobre os poemas que, dia a dia, posto neste bloguinho, são vãs. Afirma-nos Hilst que são inúteis as tentativas de se explicar um poema, tanto mais que o ofício do poeta é um exílio sobre a terra – e, talvez, o silêncio melhor exprima o que lhe condiciona o ofício.

Mas eu resisto, sobretudo em razão de as palavras serem uma das poucas formas que temos para expressar nossos sentimentos, longe das quais tudo são apenas expressões que não são capazes de promover a necessária catarse que a razão sempre exige.

A língua é matéria vibrátil

É triste explicar um poema. É inútil também.
Um poema não se explica. É como um soco.
E, se for perfeito, te alimenta para toda a vida.
Um soco certamente te acorda e, se for em
cheio, faz cair tua máscara, essa frívola,
repugnante, empolada máscara que tentamos
manter para atrair ou assustar. Se pelo menos
um amante da poesia foi atingido e levantou de
cara limpa depois de ler minhas esbraseadas
evidências líricas, escreva apenas isso: fui
atingido. E aí sim vou beber, porque há de ser
festa aquilo que na Terra me pareceu exílio:
o ofício de poeta. (HILST, 2012, p. 65)

Em: “Cascos & Carícias & Outras Crônicas” (1998) 

J.A.R. – H.C.

Hilda Hilst
(1930-2004)

Árias pequenas. Para bandolim - XIII

Túlio: há palavras escuras,
Guardadas, duros ramos
Dentro das arcas. Roxura
Por exemplo. É ânsia.
Convém lembrá-las
Porque me faço mordente
Nesta minha armadura,
Soberbosa, cansada
Do teu silêncio
E do laivoso das gentes.
Há palavras escuras.
Hederoso, por exemplo.
É abundante de heras.
Habena, que é chicote.
E há uma palavra rara
Em milenar repouso
No teu peito duro.
Convém lembrá-la, Túlio.
Do amor é que te falo.

Acorda a tua palavra.
Usa o chicote
Antes que eu me faça escura.

Em: “Júbilo, memória, noviciado da paixão” (1974)

T. S. Eliot & Black Elk
(Lori Lorion: pintora norte-americana)

Referência:

HILST, Hilda. Árias pequenas. Para bandolim - XIII. In: __________. Uma superfície de gelo ancorada no riso: antologia. Seleção, organização e apresentação de Luisa Destri. São Paulo, SP: Globo, 2012. p. 66

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