Apesar de poder ser lido e interpretado em sua literalidade – afinal, há
cabras montanhesas que costumam proceder em conformidade aos traçados representados
em seus versos –, o poema infratranscrito mais se assemelha a uma metáfora do
agir humano, pretendendo chegar longe, com os seus anseios de
realização.
E há o famoso ditado tantas vezes reiterado: “Quanto mais alto se voa,
mais alta a queda”. É o risco que assumimos quando nos colocamos a alçar a
mirada para muito além da linha do horizonte: vai-se mais longe, mas o perigo
de não voltar está a par com o enlaço de alguma imprudência. Seja como for, “são
demais os perigos desta vida!”, já dizia o poetinha.
J.A.R. – H.C.
Leonardo Fróes
(n. 1941)
Introdução à arte das montanhas
Um animal passeia nas
montanhas.
Arranha a cara nos
espinhos do mato, perde o fôlego
mas não desiste de
chegar ao ponto mais alto.
De tanto andar
fazendo esforço se torna
um organismo em
movimento reagindo a passadas,
e só. Não sente fome
nem saudade nem sede,
confia apenas nos
instintos que o destino conduz.
Puxado sempre para
cima, o animal é um ímã,
numa escala de
formiga, que as montanhas atraem.
Conhece alguma
liberdade, quando chega ao cume.
Sente-se disperso
entre as nuvens,
acha que reconheceu
seus limites. Mas não sabe,
ainda, que agora tem
de aprender a descer.
Montanhas Multicoloridas:
Desfiladeiro das Rochas Vermelhas
(Erin Hanson: pintora
norte-americana)
Referência:
FRÓES, Leonardo. Introdução à arte da montanha. In: __________. Vertigens: obra reunida (1968-1998). Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1998. p. 243.
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