Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Leonardo Fróes - Introdução à arte das montanhas

Apesar de poder ser lido e interpretado em sua literalidade – afinal, há cabras montanhesas que costumam proceder em conformidade aos traçados representados em seus versos –, o poema infratranscrito mais se assemelha a uma metáfora do agir humano, pretendendo chegar longe, com os seus anseios de realização.

E há o famoso ditado tantas vezes reiterado: “Quanto mais alto se voa, mais alta a queda”. É o risco que assumimos quando nos colocamos a alçar a mirada para muito além da linha do horizonte: vai-se mais longe, mas o perigo de não voltar está a par com o enlaço de alguma imprudência. Seja como for, “são demais os perigos desta vida!”, já dizia o poetinha.

J.A.R. – H.C.

Leonardo Fróes
(n. 1941)

Introdução à arte das montanhas

Um animal passeia nas montanhas.
Arranha a cara nos espinhos do mato, perde o fôlego
mas não desiste de chegar ao ponto mais alto.
De tanto andar fazendo esforço se torna
um organismo em movimento reagindo a passadas,
e só. Não sente fome nem saudade nem sede,
confia apenas nos instintos que o destino conduz.
Puxado sempre para cima, o animal é um ímã,
numa escala de formiga, que as montanhas atraem.
Conhece alguma liberdade, quando chega ao cume.
Sente-se disperso entre as nuvens,
acha que reconheceu seus limites. Mas não sabe,
ainda, que agora tem de aprender a descer.

Montanhas Multicoloridas:
Desfiladeiro das Rochas Vermelhas
(Erin Hanson: pintora norte-americana)

Referência:

FRÓES, Leonardo. Introdução à arte da montanha. In: __________. Vertigens: obra reunida (1968-1998). Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1998. p. 243.

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