Para além da versão literal deste poema ao português – a começar pelo
próprio título que, em termos diretos, significa “Morada” –, detenho-me em
interpretações do original, o qual, indubitavelmente, comporta as visões de
intimidade que o ente lírico metaforiza em autodescoberta e descoberta do corpo
da amada – um país que se expande ao acaso, mas a tempo de acolher a mão do
amante que o perscruta.
A amada, ou melhor, o seu corpo – ou o seu país, como aprouver ao leitor,
cujos “acidentes topológicos” não têm nome – revela-se imenso ao longo da noite.
Esta, por sua vez, detém-se prodigiosamente para acomodar no olvido as roupas
dispostas no chão: “que o amor seja eterno enquanto dure!”, diria o poetinha.
J.A.R. – H.C.
Li-Young Lee
(n. 1957)
Dwelling
As though touching
her
might make him known
to himself,
as though his hand
moving
over her body might
find who
he is, as though he
lay inside her, a country
his hand’s traveling
uncovered,
as though such a
country arose
continually up out of
her
to meet his hand’s
setting forth and setting forth.
And the places on her
body have no names.
She is what’s immense
about the night.
And their clothes on
the floor are arranged
for forgetfulness.
Amantes ao Crepúsculo
(Rynita McGuire:
artista norte-americana)
Descoberta
Como se tocá-la fosse
capaz
de torná-lo conhecido
a si mesmo,
como se o deslizar de
sua mão
sobre o corpo dela
pudesse revelar quem
ele é, como se ele a
penetrasse, um país
percorrido por sua
mão a descoberto,
como se tal país despontasse
continuamente à
frente dela
para encontrar-se com
sua mão a expandir os limites.
E os lugares em seu
corpo não têm nomes.
Ela é a imensidão no
correr da noite.
E suas roupas no chão
estão dispostas
ao esquecimento.
Referência:
LEE, Li-Young. Dwelling. In: McCLATCHY,
J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary
american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 585.
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