Cendrars, em poucas palavras, descreve o que seja São Paulo: uma
megalópole que traga humanos a mil por hora, bonita em vários recantos, mas, no
mais das vezes, disforme e inclemente, tudo porque “Narciso acha feio o que não
é espelho”. É como se dissesse que se não for a melhor tem que ser a maior,
embora não seja nenhuma das duas, caso se a compare com outros grandes centros
urbanos do mundo.
E lá está o Brasil inteiro, gente de todos os rincões do país, que para
ali migra em busca de “um futuro melhor”, destino obviamente não vocacionado a quem
quer que seja: cidade a refletir o que ocorre em todas as capitais da “terra
brasilis”, vale dizer, um núcleo de bem-estar rodeado de favelas por todos os
lados. Continuamos uma “Belíndia”!
J.A.R. – H.C.
Blaise Cendrars
Saint-Paul
J’adore cette ville
Saint-Paul est selon
mon coeur
Ici nulle tradition
Aucun préjugé
Ni ancien ni moderne
Seuls comptent cet
appétit furieux cette confiance absolue cet
optimisme cette
audace ce travail ce labeur cette
spéculation qui font
construire dix maisons par heure de tous
styles ridicules
grotesques beaux grands petits
nord sud égyptien
yankee cubiste
Sans autre
préoccupation que de suivre les statistiques
prévoir l’avenir le
confort l’utilité la plus-value
et d’attirer une grosse
immigration
Tous les pays
Tous les peuples
J’aime ça
Les deux trois
vieilles maisons portugaises qui restent sont
des faïences bleues
São Paulo: skyline
(Pablo Romero:
artista espanhol)
São Paulo
Adoro esta cidade
São Paulo combina com
meu coração
Nada aqui de tradição
Nenhum preconceito
Antigo ou moderno
Só contam esse
apetite furioso esta confiança absoluta esse
otimismo esse arrojo
esse trabalho essa faina essa
especulação que
erguem dez casas por hora de todos
os estilos ridículos
grotescos bonitos grandes pequenos
do norte do sul
yankees cubistas
Sem mais preocupação
que a de acompanhar as estatísticas
prever o futuro o
conforto a utilidade o rendimento
e a de atrair muitos
imigrantes
Todos os países
Todos os povos
Gosto disso
As duas ou três
velhas casas portuguesas que restam têm
azulejos azuis
Referência:
CENDRARS, Blaise. Saint-Paul / São
Paulo. Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos.
Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. Em francês: p. 216; em português: p. 217.
(Coleção “Lazuli”)
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