Talvez a poetisa autora do poema de hoje – sobre quem não consegui
obter qualquer dado ou informação, nem mesmo na obra de referência – tivesse alguém
em mente quando o redigiu: uma pessoa que pairava no além, sonhando acordada,
enquanto os outros discutiam políticas de benefícios e orçamentos, numa reunião
do departamento de recursos humanos de uma faculdade qualquer.
O resultado final, no entanto, é bastante divertido, se é que não resultou
carta de demissão ao sonhador. Aliás, talvez fosse melhor assim, porquanto
poderia o poeta dar asas à sua imaginação, criando um trabalho de beleza capaz
de ser um sucesso editorial, quem sabe?!
J.A.R. – H.C.
Burocracia
(Leon Zernitsky:
pintor russo)
A Frustrated Poet
This is to say
I know
You wish you were in
the woods,
Living the poet life,
Not here at a formica
topped table
In a meeting about
perceived inequalities in the benefits and
allowances offered to
employees of this college,
And I too wish you
were in the woods,
Because it’s no fun
having a frustrated poet
In the Dept. of Human
Resources, believe me.
In the poems of yours
that I’ve read, you seem ever intelligent
and decent and
patient in a way
Not evident to us in
this office,
And so, knowing how
poets can make a feast out of trouble,
Raising flowers in a
bed of drunkenness, divorce, despair,
I give you this check
representing two weeks’ wages
And I ask you to
clean out your desk today
And go home
And write a poem
With a real frog in
it
And plums from the
refrigerator,
So sweet and so cold.
Sem título
(Wifredo Lam: pintor
cubano)
Um poeta frustrado
Isto é para dizer
que bem percebo
que gostarias de
estar nos bosques,
vivendo a vida de
poeta,
não aqui à volta de
uma mesa coberta de fórmica
numa reunião sobre as
desigualdades observadas nos benefícios e
subsídios oferecidos
aos funcionários desta faculdade,
e, ainda, que também
eu estimaria que estivesses nos bosques,
acredita-me,
porque não é nada
divertido ter um poeta frustrado
no Departamento de
Recursos Humanos.
Nos poemas da tua
lavra, pareces sempre inteligente
e decente e paciente
de um modo
que não se nos mostra
evidente neste escritório,
e assim, sabendo como
os poetas são capazes de fazer uma
festa longe de
problemas,
erguendo flores num
leito de embriaguez, divórcio, desespero,
entrego-te este
cheque referente ao salário de duas semanas,
e peço-te que limpes
a tua mesa hoje
e que vás para casa
e redijas um poema
em cujo cerne haja um
sapo de verdade
e ameixas da geladeira,
tão doces e tão frias.
Referência:
ELLMANN, R. J. A frustrated poet. In:
KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 110.
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