Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

William Shakespeare - Soneto LXXIII

O poeta invoca um rol de metáforas para tipificar o que seja a sua própria senectude, a principiar pela comum associação da idade com a época do ano em fins do outono, quando as folhas, em sua maioria, já caíram dos galhos das árvores, o tempo esfriou e os pássaros partiram para terras mais cálidas.

Outro belo contraponto para o avançar da idade é a associação com o ocaso, uma “segunda morte” que faz tudo repousar: quando o poeta se extinguir como a chama do fogo em dispersão, consumido pelas cinzas, findará o amor que, nesse ínterim, tende a bem mais se fortalecer pelo poder de sua temporariedade.

J.A.R. – H.C.

William Shakespeare
(1564-1616)
Retrato de Louis Coblitz

Sonnet LXXIII

That time of year thou mayst in me behold,
When yellow leaves, or none, or few do hang
Upon those boughs which shake against the cold,
Bare ruin’d choirs, where late the sweet birds sang.
In me thow seest the twilight of such day,
As after sunset fadeth in theWest,
Which by and by black night doth take away,
Death’s second self that seals up all in rest.
In me thow seest the glowing of such fire,
That on the ashes of his youth doth lie,
As the death-bed, whereon it must expire,
Consum’d with that which it was nourish’d by.
This thou perceiv’st, which makes thy love more strong,
To love that well, which thou must leave ere long.

Folhas de Outono 2
(Leonid Afremov: pintor israelense)

Soneto LXXIII

Uma estação – o outono – em mim tu podes ver:
Já a folhagem é rara, ou nula, ou amarelada,
Nos ramos que gelado vento vem bater,
Coros em ruína, onde cantava a passarada.
Em mim contemplas o clarão crepuscular,
Quando no ocaso, posto o sol, se esvai o dia:
Segunda morte, que faz tudo repousar,
Agora mesmo o levará noite sombria.
Em mim divisas uma chama a fulgurar
Nas cinzas de uma juventude já perdida,
Como em leito final onde haja de expirar,
Só por aquilo que a nutria consumida.
Isso é o que vês, e teu amor fica mais forte,
Para amar o que logo perderás na morte.

(Tradução de Espólio de Péricles Eugênio
da Silva Ramos)

Amantes em Parque no Outono II
(Jiri Borsky: pintor tcheco)

Soneto LXXIII

Em mim poderás ver impressa a estação do ano
Em que folha nenhuma ou pouca se pendura
Nos galhos que sacode o vento frio e insano,
Coros da passarada, ermos, em desventura;
Em mim poderás ver essa mesma tristeza
Da tarde, quando o Sol no horizonte agoniza,
Quando a noite, outra morte, envolve a Natureza
De trevas e em repouso a fecha e paralisa.
Em mim poderás ver quão forte era esse fogo,
Que nas cinzas deixou a minha mocidade,
Como em leito mortuário, onde ela se esfez logo,
Com tudo quanto a punha em plena atividade;
E, em face desse quadro, amor maior terás
Ao que hoje inda estás vendo e amanhã não verás.

(Tradução de Jerônimo de Aquino)

Referências:

SHAKESPEARE, William. Sonnet LXXIII / Soneto LXXIII. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. In: __________. Sonetos. Tradução e introdução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Hedra, 2008. Em inglês: p. 84; em português: p. 85.

SHAKESPEARE, William. Soneto LXXIII. Tradução de Jerônimo de Aquino. In: __________. Sonetos. Tradução de Jerônimo de Aquino. São Paulo, SP: Martin Claret, 2006. p. 99. (Coleção “A obra-prima de cada autor”; v. 249)

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