O poeta invoca um rol de metáforas para tipificar o que seja a sua
própria senectude, a principiar pela comum associação da idade com a época do
ano em fins do outono, quando as folhas, em sua maioria, já caíram dos galhos
das árvores, o tempo esfriou e os pássaros partiram para terras mais cálidas.
Outro belo contraponto para o avançar da idade é a associação com o
ocaso, uma “segunda morte” que faz tudo repousar: quando o poeta se extinguir
como a chama do fogo em dispersão, consumido pelas cinzas, findará o amor que,
nesse ínterim, tende a bem mais se fortalecer pelo poder de sua temporariedade.
J.A.R. – H.C.
William Shakespeare
(1564-1616)
Retrato de Louis
Coblitz
Sonnet LXXIII
That time of year
thou mayst in me behold,
When yellow leaves,
or none, or few do hang
Upon those boughs
which shake against the cold,
Bare ruin’d choirs,
where late the sweet birds sang.
In me thow seest the
twilight of such day,
As after sunset
fadeth in theWest,
Which by and by black
night doth take away,
Death’s second self
that seals up all in rest.
In me thow seest the
glowing of such fire,
That on the ashes of
his youth doth lie,
As the death-bed,
whereon it must expire,
Consum’d with that
which it was nourish’d by.
This thou perceiv’st,
which makes thy love more strong,
To love that well,
which thou must leave ere long.
Folhas de Outono 2
(Leonid Afremov:
pintor israelense)
Soneto LXXIII
Uma estação – o outono – em mim tu podes ver:
Já a folhagem é rara, ou nula, ou amarelada,
Nos ramos que gelado vento vem bater,
Coros em ruína, onde cantava a passarada.
Em mim contemplas o clarão crepuscular,
Quando no ocaso, posto o sol, se esvai o dia:
Segunda morte, que faz tudo repousar,
Agora mesmo o levará noite sombria.
Em mim divisas uma chama a fulgurar
Nas cinzas de uma juventude já perdida,
Como em leito final onde haja de expirar,
Só por aquilo que a nutria consumida.
Isso é o que vês, e
teu amor fica mais forte,
Para amar o que logo
perderás na morte.
(Tradução de Espólio de Péricles
Eugênio
da Silva Ramos)
Amantes em Parque no Outono II
(Jiri Borsky: pintor tcheco)
Soneto LXXIII
Em mim poderás ver impressa a estação do ano
Em que folha nenhuma ou pouca se pendura
Nos galhos que sacode o vento frio e insano,
Coros da passarada, ermos, em desventura;
Em mim poderás ver essa mesma tristeza
Da tarde, quando o Sol no horizonte agoniza,
Quando a noite, outra morte, envolve a Natureza
De trevas e em repouso a fecha e paralisa.
Em mim poderás ver quão forte era esse fogo,
Que nas cinzas deixou a minha mocidade,
Como em leito mortuário, onde ela se esfez logo,
Com tudo quanto a punha em plena atividade;
E, em face desse
quadro, amor maior terás
Ao que hoje inda
estás vendo e amanhã não verás.
(Tradução de Jerônimo de Aquino)
Referências:
SHAKESPEARE, William. Sonnet LXXIII /
Soneto LXXIII. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. In: __________. Sonetos. Tradução e introdução de
Péricles Eugênio da Silva Ramos. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Hedra, 2008.
Em inglês: p. 84; em português: p. 85.
SHAKESPEARE, William. Soneto LXXIII.
Tradução de Jerônimo de Aquino. In: __________. Sonetos. Tradução de Jerônimo de Aquino. São Paulo, SP: Martin
Claret, 2006. p. 99. (Coleção “A obra-prima de cada autor”; v. 249)
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