Provavelmente Hass descreve, neste poema, o cotidiano de um dos muitos autores
dos desenhos daqueles livrinhos que, nos anos 60 e 70, eram vendidos às
escondidas, com historinhas banais que, ao final, resultavam em cenas de sexo
explícito. Depois veio o cinema, a internet e, agora, tudo está muito mais
escancarado nos sítios de pornografia que disponibilizam vídeos ao gosto do cliente!
O pornógrafo até que tenta, em imaginação, deslocar-se rumo às paragens
mais distantes do oriente, onde são comuns as imagens da natureza, com céu límpido,
cerejeiras em flor e algumas nuvens ao fundo. Mas para quem concebe as imagens
mais nítidas de sexo, Freud veria como falsa a ideia de que, mesmo estando no
oriente, não terá ele fantasiado algum enredo devasso por lá...
J.A.R. – H.C.
Robert Hass
(n. 1941)
The Pornographer
He has finished a
day’s work.
Placing his pencil in
a marmalade jar
which is colored the
soft grey
of a crumbling
Chinese wall
in a Sierra meadow,
he walks
from his shed into
the afternoon
where orioles rise
aflame from the orchard.
He likes the sun and
he is tired
of the art he has
spent on the brown starfish
anus of his heroine,
the wet duck’s-feather tufts
of armpit and thigh,
tender and roseate enfoldings
of labia within
labia, the pressure and darkness
and long sudden falls
from slippery stone
in the minds of the
men with anonymous tongues
in his book. When he
relaxes, old images
return. He is
probably in Central Asia.
Once again he is
marched to the wall.
All the faces are
impassive. Now
he is blinded. There
is a long silence
in which he images
clearly the endless sky
and the horizon,
swift with cloud scuds.
Each time, in
imagination, he attempts
to stand as calmly as
possible
in what is sometimes
morning warmth,
sometimes evening
chill.
Sem título
(Jim Herbert: pintor
norte-americano)
O Pornógrafo
Ele findou um dia de trabalho.
Depois de colocar o
lápis num pote de geleia
que tem a cor de um
gris suave
de um muro chinês em
ruínas
numa pradaria de Sierra,
dirige-se
ao entardecer para
fora de seu alpendre
onde os papa-figos adejam
fogosos no pomar.
Ele adora o sol e
está cansado
da arte que dedicara
à estrela-do-mar marrom
do ânus de sua
heroína, aos tufos molhados como
plumas de pato de coxas e axilas, às pregas tenras e rosadas
plumas de pato de coxas e axilas, às pregas tenras e rosadas
de lábios dentro de lábios, à pressão, à escuridão
e às longas quedas
repentinas de pedra resvaladiça
nas mentes dos homens
com anônimas línguas
em seu livro. Quando
relaxa, imagens antigas
regressam. Decerto se
encontra na Ásia Central.
Mais uma vez é levado
até o muro.
Todos os rostos são
impassíveis. Agora,
ele está às cegas. Há
um vasto silêncio durante o qual
imagina nitidamente o
céu infinito
e o horizonte, vivaz
e com nuvens deslizantes.
A cada vez, quando
põe-se a imaginar, tenta
permanecer o mais
tranquilo possível,
em meio ao que às
vezes é o calor matinal,
às vezes é o frio da
noite.
Referência:
HASS, Robert. The pornographer. In:
DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology
of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p.
390-391.
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