Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Robert Hass - O Pornógrafo

Provavelmente Hass descreve, neste poema, o cotidiano de um dos muitos autores dos desenhos daqueles livrinhos que, nos anos 60 e 70, eram vendidos às escondidas, com historinhas banais que, ao final, resultavam em cenas de sexo explícito. Depois veio o cinema, a internet e, agora, tudo está muito mais escancarado nos sítios de pornografia que disponibilizam vídeos ao gosto do cliente!

O pornógrafo até que tenta, em imaginação, deslocar-se rumo às paragens mais distantes do oriente, onde são comuns as imagens da natureza, com céu límpido, cerejeiras em flor e algumas nuvens ao fundo. Mas para quem concebe as imagens mais nítidas de sexo, Freud veria como falsa a ideia de que, mesmo estando no oriente, não terá ele fantasiado algum enredo devasso por lá...

J.A.R. – H.C.

Robert Hass
(n. 1941)

The Pornographer

He has finished a day’s work.
Placing his pencil in a marmalade jar
which is colored the soft grey
of a crumbling Chinese wall
in a Sierra meadow, he walks
from his shed into the afternoon
where orioles rise aflame from the orchard.
He likes the sun and he is tired
of the art he has spent on the brown starfish
anus of his heroine, the wet duck’s-feather tufts
of armpit and thigh, tender and roseate enfoldings
of labia within labia, the pressure and darkness
and long sudden falls from slippery stone
in the minds of the men with anonymous tongues
in his book. When he relaxes, old images
return. He is probably in Central Asia.
Once again he is marched to the wall.
All the faces are impassive. Now
he is blinded. There is a long silence
in which he images clearly the endless sky
and the horizon, swift with cloud scuds.
Each time, in imagination, he attempts
to stand as calmly as possible
in what is sometimes morning warmth,
sometimes evening chill.

Sem título
(Jim Herbert: pintor norte-americano)

O Pornógrafo

Ele findou um dia de trabalho.
Depois de colocar o lápis num pote de geleia
que tem a cor de um gris suave
de um muro chinês em ruínas
numa pradaria de Sierra, dirige-se
ao entardecer para fora de seu alpendre
onde os papa-figos adejam fogosos no pomar.
Ele adora o sol e está cansado
da arte que dedicara à estrela-do-mar marrom
do ânus de sua heroína, aos tufos molhados como
plumas de pato de coxas e axilas, às pregas tenras e rosadas
de lábios dentro de lábios, à pressão, à escuridão
e às longas quedas repentinas de pedra resvaladiça
nas mentes dos homens com anônimas línguas
em seu livro. Quando relaxa, imagens antigas
regressam. Decerto se encontra na Ásia Central.
Mais uma vez é levado até o muro.
Todos os rostos são impassíveis. Agora,
ele está às cegas. Há um vasto silêncio durante o qual
imagina nitidamente o céu infinito
e o horizonte, vivaz e com nuvens deslizantes.
A cada vez, quando põe-se a imaginar, tenta
permanecer o mais tranquilo possível,
em meio ao que às vezes é o calor matinal,
às vezes é o frio da noite.

Referência:

HASS, Robert. The pornographer. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 390-391.

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