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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Sor Juana Inés de la Cruz - Este, que vês, engano colorido

A fazer “tabula rasa” dos humanos, seus pares – ou de alguém em específico, talvez ela própria –, a sóror mexicano-espanhola recorre à tese de que os sentidos de que dispomos nos levam a erros e, miséria de todas as misérias, a existência humana é um nada, a despeito da experiência que tenhamos tido na vida, ou ainda, mesmo que povoada pelo colorido das artes.

Afinal, aos seus olhos, a arte mente, engana astutamente por intermédio de “falsos silogismos de cores”. E mais do que isso: ao conectar a falsidade da obra de arte – aparentemente um retrato pintado em tela –, ao tema da mortalidade, Inés acaba por denunciar o engano do que se postula ser a verdade.

J.A.R. – H.C.

Sor Juana Inés de la Cruz
(1648-1695)
Retrato de Juan de Miranda

Este que ves, engaño colorido

Este que ves, engaño colorido,
que, del arte ostentando los primores,
con falsos silogismos de colores
es cauteloso engaño del sentido;

éste, en quien la lisonja ha pretendido
excusar de los años los horrores,
y venciendo del tiempo los rigores
triunfar de la vejez y del olvido,

es un vano artificio del cuidado,
es una flor al viento delicada,
es un resguardo inútil para el hado:

es una necia diligencia errada,
es un afán caduco y, bien mirado,
es cadáver, es polvo, es sombra, es nada.

O grito nº 3
(Oswaldo Guayasamin: pintor equatoriano)

Este, que vês, engano colorido

Este, que vês, engano colorido,
que, ostentando das artes os primores,
com silogismos pérfidos de cores
é cauteloso engano dos sentidos;

este, em quem a lisonja pretendido
tem escusar dos anos os horrores,
e, ao tempo subjugando-lhe os rigores,
triunfar sobre a velhice e sobre o olvido,

é vazio artifício do cuidado,
é flor exposta ao vento, delicada,
é inútil resguardo contra o fado:

é apenas néscia diligência errada,
afã caduco, e, bem considerado,
é cadáver, é pó, é sombra, é nada.

Referência:

DE LA CRUZ, Sor Juana Inés. Este que ves, engaño colorido / Este, que vês, engano colorido. Tradução de Anderson Braga Horta. In: ÉGÜEZ, Gustavo Pavel (Org.). Antologia poética ibero-americana. Edição bilíngue espanhol x português. Traduções de Fernando Mendes Vianna; José Jeronymo Rivera e Anderson Braga Horta. Cuiabá, MT: Associación de Agregados Culturales Iberoamericanos, 2006. Em espanhol: p. 167; em português: p. 168.

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