Ao manifestar os primeiros sinais de que o fim de sua gata estava
próximo, o poeta deitou-a do lado de fora da casa, sobre uma fileira de folhas
caídas pelo efeito do outono, passando a observá-la da ampla janela da
residência, até que, jazendo estática, veio a expirar com um sorriso premido.
Layton, o poeta da vez, naturalizou-se canadense, depois de haver
nascido na Romênia, tornando-se grande amigo do famoso cantor e compositor canadense
– também autor de belos poemas – Leonard Cohen (1934-2016). Trata-se de um
literato bastante prolífico, com se pode constatar por sua extensa obra,
majoritariamente no domínio da poesia, a estender-se de 1945 até inícios da
década de 90, quando veio a apresentar sintomas do Mal de Alzheimer.
J.A.R. – H.C.
Irving Layton
(1912-2006)
Cat Dying in Autumn
I put the cat outside
to die,
Laying her down
Into a rut of leaves
Cold and bloodsoaked;
Her moan
Coming now more quiet
And brief in
October’s economy
Till the jaws
Opened and shut on no
sound.
Behind the wide pane
I watched the dying
cat
Whose fur like a veil
of air
The autumn wind
stirred
Indifferently with
the leaves:
Her form (or was it
the wind?)
Still breathing –
A surprise of white.
And I was thinking
Of melting snow in
spring
Or a strip of gauze
When a sparrow
Dropped down beside
it
Leaning his clean
beak
Into the hollow;
Then whirred away,
his wings,
You may suppose,
shuddering.
Letting me see
From my house
The twisted petal
Thatfell
Between the ruined
paws
To hold or play with,
And the tight smile
Cats have for meeting
death.
Gato Outonal
(Autoria Desconhecida)
Gata Morrendo no Outono
Pus a gata lá fora
para morrer,
Deitando-a sobre um
Sulco de folhas,
Fria e ensanguentada;
Seu gemido
Fez-se mais sereno e
breve
Em meio à economia de
outubro,
Até que as mandíbulas passaram a
Abrir e fechar sem
som algum.
Por trás da larga
vidraça,
Observei a gata em
estado moribundo,
Cujo pelo como um véu
de ar
O vento de outono
agitava,
Indiferentemente às
folhas:
Sua forma (ou seria o
efeito do vento?)
Ainda a respirar –
Uma surpresa de
branco.
E estava pensando
Na neve que se
derrete na primavera
Ou em uma tira de
gaze,
Quando um pardal
Pousou ao seu lado,
Encostando o bico
limpo
Na cavidade;
Logo se distanciou,
suas asas,
Pode-se supor, a
estremecer.
Deu-me ainda o ensejo
de ver,
De minha casa,
A pétala retorcida
Que lhe caiu
Entre as patas
arruinadas,
Para com ela brincar
ou se agarrar,
E o sorriso selado
Que têm os gatos ao
encontrar a morte.
Referência:
LAYTON, Irving. Cat dying in autumn.
In: NEWLOVE, John (Ed.). Canadian
poetry: the modern era. Toronto, CA: McClelland and Stewart, 1977. p. 123.
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