Horas desencaminhadas que fazem
dissipar o verbo na acronia, vale dizer, sem se definir um enredo que demarque
o tempo de forma mais nítida no romance que vem à tona: nitidamente o poeta
projeta invectivas em direção a certos padrões de obras literárias que pouco se
detêm em orientar o leitor no curso do tempo, deixando-o à deriva como um náufrago
em alto mar.
As imagens empregadas pelo poeta
permitem entrever a escuridão em que se emerge, sem chances de lá sair – como
se, num labirinto, deixássemos de contar com um fio de Ariadne –, quando o
autor destroça a carruagem do sol, fazendo desaparecer a nitidez do estilo, a
clareza de ideias e a linha temporal necessária para amalgamar a trama das
histórias novelescas.
J.A.R. – H.C.
Carlos Barral
(1928-1989)
Extravío de Horas
Haber perdido el
tiempo, seriamente,
haciendo vagas cosas
rituales
majaderas, nerviosas
como muecas
que miman en la
historia o desvanecen
el verbo en la
acronía.
Como siglos
de cristal
instantáneo, ricas horas
lentísimas, quemadas
mientras hunda
el sol triste sus
barbas luminosas
en el quieto
almanaque de las sombras
o tumben sus caballos
los despojos del
carro, el bronce ardiente
del eje y de la lanza
ya sin ruedas
y ese viento de
púrpura. Y quedemos
azogados y absortos
bajo el vuelo
obscurísimo del tiempo.
Apolo raptando Cirene
(Frederick A.
Bridgman: pintor norte-americano)
Extravio de Horas
Ter desperdiçado
tempo, seriamente,
fazendo vagas coisas
rituais
tolas, nervosas como
caretas
que comprometem a
história ou desvanecem
o verbo na acronia.
Como séculos
de cristal
instantâneo, ricas horas
lentíssimas,
queimadas enquanto o sol
triste afunda suas
barbas luminosas
no quieto almanaque
das sombras
ou seus cavalos
tombem
os despojos da
carruagem, o bronze ardente
do eixo e da lança já
sem rodas
e esse vento de
púrpura. E fiquemos
agitados e absortos
sob
o voo obscuríssimo do tempo.
Referência:
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