Quando éramos crianças, ouvíamos nossas mães cantarem, para nos ninar
até o sono, aquela cantiga popular que falava de um cravo que brigava com a
rosa, ficava doente, mas que, depois de um dengo, melhorou e, por fim, no mundo
das flores, houve muita festa, pois, ao final, resolveram se casar.
Nesta décima, do epigramista espanhol Juan de Salinas y Castro
(1559-1643), por outro lado, vemos um embate entre o jasmim e a rosa, tudo em
razão do perfume que exalam, mais renitente nesta que naquele, motivo pelo qual
à rosa são dedicados louvores e louvores mesmo após fenecer e se despetalar,
porquanto, ainda assim, persiste a evolar os seus derradeiros aromas –
distintamente daquele, de fragrância menos subsistente.
J.A.R. – H.C.
Natureza-morta de rosas, jasmins
e outras flores
(Jules Ferdinand
Médard: pintor francês)
Décima I: En alabanza de la rosa
en competência del jazmín
El que eligió en el
jardín
el jazmín, no fue
discreto,
que no tiene olor
perfeto
si se marchita el
jazmín.
Mas la rosa hasta su
fin,
porque aun su morir
se alabe,
tiene olor más dulce
y suave,
fragancia más
olorosa,
luego mejor es la
rosa
y el jazmín menos
suave.
Tú, que rosa y jazmín
ves,
eliges la pompa breve
del jazmín, fragante
nieve,
que un soplo al
céfiro es;
mas conociendo
después
la altiva lisonja
hermosa
de la rosa cuidadosa,
la antepondrás en tu
amor,
que es el jazmín poca
flor,
mucha fragancia la
rosa.
Rosas e jasmins num vaso de Delft
(Pierre-Auguste
Renoir: pintor francês)
Décima I: Em louvor à rosa
em disputa com o jasmim
O que escolheu no
jardim
o jasmim, não foi sensato,
pois não deleitará o
olfato
quando a flor chegar
ao fim.
Fenece a rosa,
outrossim,
sob cânticos de
louvor,
tem olor mais doce e suave,
fragrância mais olorosa.
Logo melhor é a
rosa,
e o jasmim menos suave.
Tu, que vês rosa e
jasmim,
escolhes a pompa
breve
do jasmim, fragrante
neve,
um sopro de brisa,
enfim;
mas ao saberes, assim,
da altiva loa formosa
à rosa tão caprichosa,
a anteporás em teu
amor,
pois o jasmim é pouca
flor,
e muita fragrância a
rosa.
Referência:
SALINAS, Juan de. En alabanza de la
rosa en competência del jazmín. In: __________. Poesías del doctor D. Juan de Salinas y Castro. Tomo Segundo.
Sevilha, ES: Imp. de D. José María Geofrin, 1869. p. 163-164.
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