A falsidade, a injustiça e a amargura: três componentes da vida
quotidiana não só do poeta quanto de toda a gente simples da sociedade, eram as
componentes contra as quais se sustentava um plano para mudá-la, tornando-a mais humana, isto na já meio longínqua década de 60 do século passando, quando os clarins da ditadura
ainda não haviam ressoado.
Mas haverá alguma surpresa em dizer que tais componentes ainda são o
substrato vivo da sociedade brasileira nos dias que correm – e tanto mais hoje,
quando os arautos exatamente do que se pretende por “justiça” é que estão
jogando multidões na rua da amargura, longe de seus empregos, tudo em razão do
pretextual combate à corrupção – que, de fato, só tem um lado?! Aliás, como
ocorrera naquela malfadada década: a história se repete como farsa!
J.A.R. – H.C.
Geir Campos
(1924-1999)
Tarefa
Morder o fruto amargo
e não cuspir
mas avisar aos outros
quanto é amargo,
cumprir o trato
injusto e não falhar
mas avisar aos outros
quanto é injusto,
sofrer o esquema
falso e não ceder
mas avisar aos outros
quanto é falso;
dizer também que são
coisas mutáveis...
E quando em muitos a
noção pulsar
– do amargo e injusto
e falso por mudar –
então confiar à gente
exausta o plano
de um mundo novo e
muito mais humano.
Árvore em flor perto de Vetheuil
(Claude Monet: pintor
francês)
Referência:
CAMPOS, Geir. Tarefa. In: SANT’ANNA,
Affonso Romano de et al. Violão de rua:
poemas para a liberdade. V. I. Rio de Janeiro, GB: Civilização Brasileira,
1962. p. 38. (“Cadernos do Povo Brasileiro”; Volume Extra)
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