Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Geir Campos - Tarefa

A falsidade, a injustiça e a amargura: três componentes da vida quotidiana não só do poeta quanto de toda a gente simples da sociedade, eram as componentes contra as quais se sustentava um plano para mudá-la, tornando-a mais humana, isto na já meio longínqua década de 60 do século passando, quando os clarins da ditadura ainda não haviam ressoado.

Mas haverá alguma surpresa em dizer que tais componentes ainda são o substrato vivo da sociedade brasileira nos dias que correm – e tanto mais hoje, quando os arautos exatamente do que se pretende por “justiça” é que estão jogando multidões na rua da amargura, longe de seus empregos, tudo em razão do pretextual combate à corrupção – que, de fato, só tem um lado?! Aliás, como ocorrera naquela malfadada década: a história se repete como farsa!

J.A.R. – H.C.

Geir Campos
(1924-1999)

Tarefa

Morder o fruto amargo e não cuspir
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a noção pulsar
– do amargo e injusto e falso por mudar –
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.

Árvore em flor perto de Vetheuil
(Claude Monet: pintor francês)

Referência:

CAMPOS, Geir. Tarefa. In: SANT’ANNA, Affonso Romano de et al. Violão de rua: poemas para a liberdade. V. I. Rio de Janeiro, GB: Civilização Brasileira, 1962. p. 38. (“Cadernos do Povo Brasileiro”; Volume Extra)

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