Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Horácio Costa - História Natural

O soneto é forma poética apropriada para recolher, em seus versos, um paralelo entre as comuns representações de cenários do ‘habitat’ de animais em museus de história natural – como os que havia no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro – e a própria decantação das palavras, em verbos e sintaxe, no pleno correr da noite, no gabinete do poeta.

No fundo, trata-se de uma “natureza-morta” que o vate pinta com a pena, jorrando, em sua escrita, o que de comum há numa paisagem mimetizada à natura: aves, mamíferos e invertebrados empalhados, em meio à savana, “mais mortos que os mortos”, embora parecendo vivos, para dar ao visitante-leitor a impressão de que percorre o fronte onde a metáfora de fato acontece.

J.A.R. – H.C.

Horácio Costa
(n. 1954)

História Natural

Detrás do taxidermista, há a palha,
detrás do rinoceronte, a savana,
detrás desta escritura só a noite,
a noite que galopa até o fronte.

Na asa da mariposa assoma a lua,
na cabeça do alfinete brilha o sol,
nestas linhas reverbera um sol negro,
o astro que ora sobe no horizonte.

O animal dissecado da sintaxe
provê o verbo, o bastidor e a legenda
duma coleção mais morta que os mortos.

No gabinete de história natural
o visitante-leitor detém-se face
a mamíferos e insetos reluzentes.

Em: “Quadragésimo” (1999)

Filhotes de Urso
(Andre Dluhos: pintor eslovaco)

Referência:

COSTA, Horácio. História natural. In: ASCHER, Nelson et al. Poetas na biblioteca: antologia. São Paulo, SP: Fundação Memorial da América Latina, 2001. p. 58.

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