Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 20 de novembro de 2018

A. R. Ammons - Os Limites da Cidade

Depois de nos alertar para as pequenas coisas que ocorrem na natureza, às quais atribuímos boas ou más qualidades, o poeta nos convoca a reconciliarmos com tudo quanto há sobre a terra, deixando o temor de lado e difundindo louvores pela maravilha que é o universo à nossa volta.

Há no poema nítidas conexões entre planos não contíguos de ideias, imagens, sentidos e significados, de forma a demarcar os limites da cidade: deste lado, o legado artificioso da civilização, a distanciar-nos do equilíbrio ao qual sempre retorna a natureza; e do outro, as peculiaridades do meio ambiente, nunca suficientemente percebidas e respeitadas, para que se mantenham em seu primado de beleza, ainda que insólita.

J.A.R. – H.C.

A. R. Ammons
(1926-2001)

The City Limits

When you consider the radiance, that it does not withhold
itself but pours its abundance without selection into every
nook and cranny not overhung or hidden; when you consider

that birds’ bones make no awful noise against the light but
lie low in the light as in a high testimony; when you consider
the radiance, that it will look into the guiltiest

swervings of the weaving heart and bear itself upon them,
not flinching into disguise or darkening; when you consider
the abundance of such resource as illuminates the glow-blue

bodies and gold-skeined wings of flies swarming the dumped
guts of a natural slaughter or the coil of shit and in no
way winces from its storms of generosity; when you consider

that air or vacuum, snow or shale, squid or wolf, rose or lichen,
each is accepted into as much light as it will take, then
the heart moves roomier, the man stands and looks about, the

leaf does not increase itself above the grass, and the dark
work of the deepest cells is of a tune with May bushes
and fear lit by the breadth of such calmly turns to praise.

A alegria do verão
(Jennifer Lommers: pintora norte-americana)

Os Limites da Cidade

Quando refletes sobre o esplendor, que não se detém,
mas que, indistinto, verte sua abundância em todos os
cantos e recantos pérvios ou expostos; quando reparas

que os ossos das aves não zumbem forte diante da luz,
mas abrigam-se na luz em alto testigo; quando refletes
sobre o esplendor, que perscrutará os mais censuráveis

desvios do claudicante coração, detendo-se sobre eles,
sem ceder a disfarces ou a sombras; quando ponderas
sobre a abundância de tal recurso a iluminar os corpos

rútilo-azulados e as flavas asas das moscas a infestar as
entranhas de uma carniça natural ou espiral de merda,
sem abalos em teu enxurro dadivoso; quando percebes

que ar ou vácuo, neve ou xisto, calamar ou lobo, rosa
ou líquen, cada um é visto em quanta luz possa tomar,
o coração dilata-se, o homem para e nota à volta que

a folha não irrompe por cima da relva; a obra sombria
das mais profundas células afina com as sarças de maio
e o temor à luz de tal influxo devagar se torna louvor.

Referência:

AMMONS, A. R. The city limits. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 237.

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