Depois de nos alertar para as pequenas coisas que ocorrem na natureza,
às quais atribuímos boas ou más qualidades, o poeta nos convoca a
reconciliarmos com tudo quanto há sobre a terra, deixando o temor de lado e
difundindo louvores pela maravilha que é o universo à nossa volta.
Há no poema nítidas conexões entre planos não contíguos de ideias,
imagens, sentidos e significados, de forma a demarcar os limites da cidade:
deste lado, o legado artificioso da civilização, a distanciar-nos do equilíbrio
ao qual sempre retorna a natureza; e do outro, as peculiaridades do meio
ambiente, nunca suficientemente percebidas e respeitadas, para que se mantenham
em seu primado de beleza, ainda que insólita.
J.A.R. – H.C.
A. R. Ammons
(1926-2001)
The City Limits
When you consider the
radiance, that it does not withhold
itself but pours its
abundance without selection into every
nook and cranny not
overhung or hidden; when you consider
that birds’ bones
make no awful noise against the light but
lie low in the light
as in a high testimony; when you consider
the radiance, that it
will look into the guiltiest
swervings of the
weaving heart and bear itself upon them,
not flinching into
disguise or darkening; when you consider
the abundance of such
resource as illuminates the glow-blue
bodies and
gold-skeined wings of flies swarming the dumped
guts of a natural
slaughter or the coil of shit and in no
way winces from its
storms of generosity; when you consider
that air or vacuum,
snow or shale, squid or wolf, rose or lichen,
each is accepted into
as much light as it will take, then
the heart moves
roomier, the man stands and looks about, the
leaf does not
increase itself above the grass, and the dark
work of the deepest
cells is of a tune with May bushes
and fear lit by the
breadth of such calmly turns to praise.
A alegria do verão
(Jennifer Lommers:
pintora norte-americana)
Os Limites da Cidade
Quando refletes sobre
o esplendor, que não se detém,
mas que, indistinto,
verte sua abundância em todos os
cantos e recantos pérvios
ou expostos; quando reparas
que os ossos das aves
não zumbem forte diante da luz,
mas abrigam-se na luz
em alto testigo; quando refletes
sobre o esplendor, que
perscrutará os mais censuráveis
desvios do
claudicante coração, detendo-se sobre eles,
sem ceder a disfarces
ou a sombras; quando ponderas
sobre a abundância de
tal recurso a iluminar os corpos
rútilo-azulados e as
flavas asas das moscas a infestar as
entranhas de uma
carniça natural ou espiral de merda,
sem abalos em teu
enxurro dadivoso; quando percebes
que ar ou vácuo, neve
ou xisto, calamar ou lobo, rosa
ou líquen, cada um é visto
em quanta luz possa tomar,
o coração dilata-se,
o homem para e nota à volta que
a folha não irrompe por
cima da relva; a obra sombria
das mais profundas
células afina com as sarças de maio
e o temor à luz de
tal influxo devagar se torna louvor.
Referência:
AMMONS, A. R. The city limits. In: DOVE,
Rita (Ed.). The penguin anthology of
twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p.
237.
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