O alterego do poeta dedica-se a mostrar
ao vate lusitano, nascido em Angola, os motivos pelos quais a sua lida é vã, ao
sair de casa sem qualquer destino, ou melhor, sem um objetivo predeterminado,
recomendando-lhe, por conseguinte, que permaneça no lar olhando o tempo passar
– sem culpa nem glória!
Ademais, o tempo está frio e o poeta
sofre de reumatismo e dor na cabeça, além de estar “gordo e careca”, o que,
para todos os efeitos, na disputa por encantar as garotas disponíveis, só mesmo
com a conta bancária provida de altas verbas (rs)! Mas, antes do fim, um
contraditório: o poeta pode estar careca – é verdade –, mas a julgar por suas
inúmeras fotografias na internet, postadas a menos de um ano, não se acha tão
gordo assim. Ou talvez eu esteja considerando o ponto superlativo da situação:
a obesidade!
Obs.: Retirei deliberadamente a
dedicatória do poema, por razões que me dispenso tê-las que declinar!
J.A.R. – H.C.
Valter Hugo Mãe
(n. 1971)
gordo e careca
onde vais, valter
hugo mãe, tão sem ter
com quem, tão
precipitado no vazio do
caminho à procura de
quê
porque não ficas em
casa, resignadamente só,
a ver como a vida se
gasta sem culpa nem glória
és um rapaz estranho,
valter hugo mãe, aí metido
num amor nenhum que
te magoa e esperas ter
lugar no mundo, com
tanto que o mundo tem de
distraído
devias morrer no dia
dezoito de março de
mil novecentos e noventa
e seis, como dizes que
vai acontecer, para
que se acabe essa
imprecisa sentença
que é a vida
volta a fechar a
porta, não há nada para ti lá fora
e está frio, tens
reumatismo, dói-te a cabeça, estás
gordo e careca, não
faz sentido sequer que
tentes chegar às
luzes esbatidas da marginal, ainda
que seja só ao lado
menos percorrido pelos banhistas
volta a fechar a
porta e talvez durmas, está um
agradável silêncio no
prédio, tenho a certeza de que
reparaste
nisso
O Velho Guitarrista
(Pablo
Picasso: pintor espanhol)
Referência:
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