Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Valter Hugo Mãe - gordo e careca

O alterego do poeta dedica-se a mostrar ao vate lusitano, nascido em Angola, os motivos pelos quais a sua lida é vã, ao sair de casa sem qualquer destino, ou melhor, sem um objetivo predeterminado, recomendando-lhe, por conseguinte, que permaneça no lar olhando o tempo passar – sem culpa nem glória!

Ademais, o tempo está frio e o poeta sofre de reumatismo e dor na cabeça, além de estar “gordo e careca”, o que, para todos os efeitos, na disputa por encantar as garotas disponíveis, só mesmo com a conta bancária provida de altas verbas (rs)! Mas, antes do fim, um contraditório: o poeta pode estar careca – é verdade –, mas a julgar por suas inúmeras fotografias na internet, postadas a menos de um ano, não se acha tão gordo assim. Ou talvez eu esteja considerando o ponto superlativo da situação: a obesidade!

Obs.: Retirei deliberadamente a dedicatória do poema, por razões que me dispenso tê-las que declinar!

J.A.R. – H.C.

Valter Hugo Mãe
(n. 1971)

gordo e careca

onde vais, valter hugo mãe, tão sem ter
com quem, tão precipitado no vazio do
caminho à procura de quê

porque não ficas em casa, resignadamente só,
a ver como a vida se gasta sem culpa nem glória

és um rapaz estranho, valter hugo mãe, aí metido
num amor nenhum que te magoa e esperas ter
lugar no mundo, com tanto que o mundo tem de
distraído

devias morrer no dia dezoito de março de
mil novecentos e noventa e seis, como dizes que
vai acontecer, para que se acabe essa
imprecisa sentença que é a vida

volta a fechar a porta, não há nada para ti lá fora
e está frio, tens reumatismo, dói-te a cabeça, estás
gordo e careca, não faz sentido sequer que
tentes chegar às luzes esbatidas da marginal, ainda
que seja só ao lado menos percorrido pelos banhistas

volta a fechar a porta e talvez durmas, está um
agradável silêncio no prédio, tenho a certeza de que
reparaste nisso

O Velho Guitarrista
(Pablo Picasso: pintor espanhol)

Referência:

MÃE, Valter Hugo. Gordo e careca. In: __________. Mil e setenta e um poemas. Brasília, DF: Thesaurus, 2008. p. 15.

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