Leal nos fala sobre as suas leituras – prosa e poesia –, num soneto sem
rimas, descritivo e dialógico, oferecendo-nos suas impressões sobre autores como
Ezra Pound e Borges, este lhe parecendo mais natural em sua prodigiosa
erudição, aquele mais manifestamente engastado na jactância.
Daí o título atribuído ao poema – “Literatura natural” –, não exatamente
porque haja alguma “naturalidade” na literatura, obviamente, fruto do
escrutínio mental de humanos, senão porque se busca qualificá-la pela fluidez
com que se manifesta pelas palavras de alguns autores, sendo outros bem mais –
como diria?! – prolixos ou fastidiosos.
J.A.R. – H.C.
Cláudio Murilo Leal
(n. 1937)
Pastel de
Julio Miguel Garcia
Rodriguez-Piroh
Literatura natural
Tendo renunciado a
atingir qualquer meta,
eis que uma paz
percorre os meus caminhos
e me permite ler os
contos de Mário de Alencar,
os poemas de Medeiros
e Albuquerque e Hermes Fontes.
Realmente , Machado
foi o melhor de todos,
mas a perfeição corta
o diálogo e, à vezes,
desculpe, prefiro a
conferência de Coelho Neto,
sobre a palavra, por exemplo, ingênua e
deliciosa.
Mas não deixo de ter
pena em não estar lendo
Dostoiewsky e Proust,
se bem que tenha feito
as pazes com Valéry,
e agora me distraio
com um livro de 1901,
Poésie et Folie.
Ezra Pound deixei de
lado, por uns tempos.
Ao pedantismo dele
prefiro a culta naturalidade de Borges.
Em: “Caderno de Proust”
Alegoria da música e da poesia
(Mazzanti Ludovico:
pintor italiano)
Referência:
LEAL, Cláudio Murilo. Literatura
natural. In: __________. Módulos:
1959-1998. Rio de Janeiro, RJ: Sette Letras, 1998. p. 148. (Ministério da
Cultura – Fundação Biblioteca Nacional – Departamento Nacional do Livro; Universidade
de Mogi das Cruzes)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário