Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Lao-Tzu - II: Se todos na Terra reconhecerem a beleza como bela

Todos os opostos da natureza estão unidos e não há sentido em pretender distinguir as coisas como belas e feias ou como boas e más. Ou por outra: a beleza não é uma existência concreta em si, uma qualidade fixa daquilo que é contemplado, senão apenas a impressão de alguém, conquanto viéssemos a cair numa tautologia se disséssemos que o belo é a ausência do feio ou vice-versa.

Vejam-se ainda os seguintes exemplos: a haste espinhosa da roseira leva até a beleza da rosa; depois do fogo sobre a mata, brota ela rejuvenescida; em seguida ao céu taciturno de inverno vem o luminoso do verão. Em suma, como sublinha a letra da música “O bem e o mal” – na segunda parte deste vídeo, na voz maravilhosa de Nana Caymmi –, somos um amálgama de todas as cúspides antípodas de que lançamos mão para valorar os fatos do mundo.

J.A.R. – H.C.

Tema para contemplação:
o Tao de Lao-Tzu
(Autoria desconhecida)

II

Se todos na Terra reconhecerem a beleza como bela,
desta forma já se pressupõe a feiúra.
Se todos na Terra reconhecerem o bem como o bem,
deste modo já se pressupõe o mal.
Porque Ser e Não-ser geram-se mutuamente.
O fácil e o difícil se complementam.
O longo e o curto se definem um ao outro.
O alto e o baixo convivem um com o outro.
A voz e o som casam-se um com o outro.
O antes e o depois se seguem mutuamente.

Assim também é o Sábio:
permanece na ação sem agir,
ensina sem nada dizer.
A todos os seres que o procuram
ele não se nega.
Ele cria, e ainda assim nada tem.
Age e não guarda coisa alguma.
Realizada a obra,
não se apega a ela.
E, justamente por não se apegar,
não é abandonado.

Contemplação
(Jakub Schikaneder: pintor tcheco)

Referência:

LAO-TZU. II: Se todos na Terra reconhecerem a beleza como bela. Tradução de Margit Martincic. In: __________. Tao-te king: o livro do sentido e da vida. Texto e comentário de Richard Wilhelm. Tradução de Margit Martincic. 15. reimp. da 1. ed. de 1987. São Paulo, SP: Pensamento, 2012. p. 38.

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