Todos os opostos da natureza estão unidos e não há sentido em pretender
distinguir as coisas como belas e feias ou como boas e más. Ou por outra: a
beleza não é uma existência concreta em si, uma qualidade fixa daquilo que é
contemplado, senão apenas a impressão de alguém, conquanto viéssemos a cair
numa tautologia se disséssemos que o belo é a ausência do feio ou vice-versa.
Vejam-se ainda os seguintes exemplos: a haste espinhosa da roseira leva
até a beleza da rosa; depois do fogo sobre a mata, brota ela rejuvenescida; em
seguida ao céu taciturno de inverno vem o luminoso do verão. Em suma, como sublinha
a letra da música “O bem e o mal” – na segunda parte deste
vídeo, na voz maravilhosa de Nana Caymmi –, somos um amálgama de todas as
cúspides antípodas de que lançamos mão para valorar os fatos do mundo.
J.A.R. – H.C.
Tema para contemplação:
o Tao de Lao-Tzu
(Autoria
desconhecida)
II
Se todos na Terra
reconhecerem a beleza como bela,
desta forma já se
pressupõe a feiúra.
Se todos na Terra
reconhecerem o bem como o bem,
deste modo já se
pressupõe o mal.
Porque Ser e Não-ser
geram-se mutuamente.
O fácil e o difícil
se complementam.
O longo e o curto se
definem um ao outro.
O alto e o baixo
convivem um com o outro.
A voz e o som
casam-se um com o outro.
O antes e o depois se
seguem mutuamente.
Assim também é o Sábio:
permanece na ação sem
agir,
ensina sem nada
dizer.
A todos os seres que
o procuram
ele não se nega.
Ele cria, e ainda
assim nada tem.
Age e não guarda
coisa alguma.
Realizada a obra,
não se apega a ela.
E, justamente por não
se apegar,
não é abandonado.
Contemplação
(Jakub Schikaneder:
pintor tcheco)
Referência:
LAO-TZU. II: Se todos na Terra reconhecerem
a beleza como bela. Tradução de Margit Martincic. In: __________. Tao-te king: o livro do sentido e da
vida. Texto e comentário de Richard Wilhelm. Tradução de Margit Martincic. 15.
reimp. da 1. ed. de 1987. São Paulo, SP: Pensamento, 2012. p. 38.
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