De uma autora que mal existem referências na internet – mas que, à luz
das informações contidas na obra de referência, nasceu em Atibaia (SP) –, este
poema detém-se em articular o ponto de vista da poetisa, mirando as palavras
a partir de seu privilegiado belvedere estético.
Imersas em místico universo, as palavras, se grafadas na página,
oferecem-nos os efeitos visuais de suas arestas e contornos justapostos; quando
pronunciadas, surpreendem-nos pelo volume compacto da argamassa de sons que
logram disparar na brisa, ressonantes, evanescentes todavia, como tudo o que
existe.
J.A.R. – H.C.
Natureza-Morta 11
(Lohmuller Gyuri:
pintor romeno)
O Poema
Desligada e insólita
– a palavra –
me submete à sua
mística.
Morto o sentido e
contorno
convivo com a
imprevisível
argamassa dos sons.
Quero o esvair de
sombras
ouço metal de
ângulos.
Despertar a absorvência
raízes de encanto e
vácuo.
Surpreender a sua
essência
de uma casa
ou folha.
De apelo e rua
poderá emanar tão
somente
distância.
Me extinguir com ela
difícil abandono
quando boiar apenas
um rumor de nuance
ou arabesco.
E envolvida
permanecer
em suas ressonâncias
de presença e vaga.
Se eu fosse uma sereia
(Jim Warren: ilustrador
norte-americano)
Referência:
CARNEIRO, Dulce. O poema. In: CAMPOS,
Milton de Godoy (Ed.). Antologia poética
da geração de 45. 1ª série. São Paulo, SP: Clube de Poesia, 1966. p.
194-195.
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Dulce G.Carneiro foi uma ótima poetisa, escritora e fotógrafa. Publicou o livro Além da Palavra em 1958 e muitas poesias e crônicas no Suplemento Literário de O Estado de São Paulo nos anos 50 e 60. Era irmã do poeta e escritor (ficção-científica, principalmente) André Carneiro. Era de Atibaia e faleceu dia 22 deste mês, 2018, aos 89 anos. Descobri o seu blog justamente porque estava procurando mais poesias dela, eu a conheci pessoalmente em 1957 e o seu poema "À margem" me impressionou muito. Muito obrigado e parabéns por tanta coisa boa. Adalberto
ResponderExcluirPrezado Adalberto: Tenho muito a lhe agradecer pelas informações repassadas sobre a poetisa Dulce G. Carneiro, com poucos dados tornados públicos na internet. É um pena que tenha falecido, tanto mais que há tão pouco tempo, quando as recordações ainda permanecem vívidas. Um abraço. J. A. Rodrigues
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