Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

E. E. Cummings - Talvez não seja sempre assim

Sem manter o tão característico atrevimento tipográfico do original de Cummings, o afamado bibliófilo brasileiro apresenta, em sua obra compendiadora, esta bela tradução do poema em epígrafe, que pressagia a perda de um amor e o seu consectário – o pesar da separação.

Da possibilidade de a companheira do poeta encontrar um outro amor – e imagino que Cummings não esteja se referindo apenas a um parceiro sexual –, roubando-lhe por conseguinte o coração, o autor passa a descrever, na segunda parte do poema, a resposta que daria a esse dilema, vale dizer, preferindo vê-la feliz com outro homem, já que retê-la sem que o ame seria um mal maior.

J.A.R. – H.C.

E. E. Cummings
(1894-1962)

It may not always be so

It may not always be so; and i say
that if your lips, which i have loved, should touch
another’s, and your dear strong fingers clutch
his heart, as mine in time not far away;
if on another’s face your sweet hair lay
in such a silence as i know, or such
great writhing words as, uttering overmuch,
stand helplessly before the spirit at bay;

if this should be, i say if this should be –
you of my heart, send me a little word;
that i may go unto him, and take his hands,
saying, Accept all happiness from me.
Then shall i turn my face, and hear one bird
sing terribly afar in the lost lands.

Matiz de Pensamentos Sombrios
(Cyril Rolando: artista francês)

Talvez não seja sempre assim

Talvez não seja sempre assim; e assim te digo
Que se teus lábios, que eu amei, tocarem noutros,
E teus dedos, fortes e queridos, agarrarem
Um outro coração, como ao meu em tempo não remoto;
Se no rosto de outro tua doce cabeleira se esparzir
No silêncio que tão bem conheço, ou entre grandes
Palavras sofredoras, que exprimindo demais em seu murmúrio,
Impotentes se alinham ante o espírito acuado;

Se isto se der, se isto se der, repito
Tu que és tão minha, não o escondas de mim:
Para que eu possa ir a ele, e, tomando-lhe as mãos,
Dizer, Aceita de mim esta ventura toda.
Depois eu voltarei meu rosto, e ouvirei um pássaro
Cantar terrivelmente longe nas regiões perdidas.

Referência:

CUMMINGS, E. E. It may not always be so / Talvez não seja sempre assim. Tradução de José Mindlin. In: MINDLIN, José. Uma vida entre livros: reencontros com o tempo. Prefácio de Antonio Candido. São Paulo, SP: Edusp; Companhia das Letras, 1997. Em inglês: p. 210; em português: 211.

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