Sem manter o tão característico atrevimento tipográfico do original de
Cummings, o afamado bibliófilo brasileiro apresenta, em sua obra compendiadora,
esta bela tradução do poema em epígrafe, que pressagia a perda de um amor e o
seu consectário – o pesar da separação.
Da possibilidade de a companheira do poeta encontrar um outro amor – e
imagino que Cummings não esteja se referindo apenas a um parceiro sexual –,
roubando-lhe por conseguinte o coração, o autor passa a descrever, na segunda
parte do poema, a resposta que daria a esse dilema, vale dizer, preferindo
vê-la feliz com outro homem, já que retê-la sem que o ame seria um mal maior.
J.A.R. – H.C.
E. E. Cummings
(1894-1962)
It may not always be so
It may not always be
so; and i say
that if your lips, which
i have loved, should touch
another’s, and your
dear strong fingers clutch
his heart, as mine in
time not far away;
if on another’s face
your sweet hair lay
in such a silence as
i know, or such
great writhing words
as, uttering overmuch,
stand helplessly
before the spirit at bay;
if this should be, i
say if this should be –
you of my heart, send
me a little word;
that i may go unto
him, and take his hands,
saying, Accept all
happiness from me.
Then shall i turn my
face, and hear one bird
sing terribly afar in
the lost lands.
Matiz de Pensamentos Sombrios
(Cyril Rolando: artista
francês)
Talvez não seja sempre assim
Talvez não seja
sempre assim; e assim te digo
Que se teus lábios,
que eu amei, tocarem noutros,
E teus dedos, fortes
e queridos, agarrarem
Um outro coração,
como ao meu em tempo não remoto;
Se no rosto de outro
tua doce cabeleira se esparzir
No silêncio que tão
bem conheço, ou entre grandes
Palavras sofredoras,
que exprimindo demais em seu murmúrio,
Impotentes se alinham
ante o espírito acuado;
Se isto se der, se
isto se der, repito
Tu que és tão minha,
não o escondas de mim:
Para que eu possa ir
a ele, e, tomando-lhe as mãos,
Dizer, Aceita de mim
esta ventura toda.
Depois eu voltarei
meu rosto, e ouvirei um pássaro
Referência:
CUMMINGS, E. E. It may not always be so
/ Talvez não seja sempre assim. Tradução de José Mindlin. In: MINDLIN, José. Uma vida entre livros: reencontros com
o tempo. Prefácio de Antonio Candido. São Paulo, SP: Edusp; Companhia das
Letras, 1997. Em inglês: p. 210; em português: 211.
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..um dos poemas mais bonitos que já li na minha vida..
ResponderExcluirum dos poemas mais lindos que já vi..
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