Neste mundo de dominados e de dominadores o valor que a tudo mensura é a
moeda, e ai daqueles que ousam ser diferentes, pois serão vistos como inimigos
a serem subjugados ou, em última instância, destruídos, haja vista que o
recurso à violência está indissociavelmente conectado à manutenção do poder.
Eis a luta entre aqueles que se agarram aos padrões de dominação e a
grande maioria que trabalha por um mundo de parcerias mais equitativas, com o
objetivo de se superar a desigualdade, a alienação e a pobreza, rumo a uma
sociedade mais igualitária e em que todos possam manifestar o que têm de melhor.
J.A.R. – H.C.
Moacyr Félix
(1926-2005)
Neste Mundo de Dominados e de Dominadores
Não admiro essas
estéticas tão propagadoras
deste tempo em que morro:
o dinheiro é que veste
as suas invencionices
ocas plenamente
do que os
despossuídos sabem na verdade ser
mais uma vez do dia
pesando como algema
quando as portas dos amanhãs se abrem e o homem vai
para a escravidão com
as roupas do trabalho.
Neste mundo de
dominados e dominadores
a poesia é uma fera acuada
e morde
a arte que se agacha
sob os tronos:
doar, como se fossem
flores, falas de amor
aos que impedem a
vida livre, isso não traz
na palavra a
desenhar-se sobre as brasas
o lampejo em que o
poeta, ele próprio, também se queima
com as essências do
não-ser sobre o horizonte
nas oficinas da
negação que é o seu poema.
Em: “Em nome da vida” (1981)
O Medo
(Oswaldo Guayasamin:
pintor equatoriano)
Referência:
FÉLIX, Moacyr. Neste mundo de dominados
e de dominadores. In: __________. Antologia
poética. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1993. p. 182.
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