Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Paulo Leminski - razão de ser / poesia: 1970‎

Temos aqui dois instantâneos da poesia, de alto teor concentrado em poucas palavras, do poeta paranaense, ambas às voltas com rápidas reflexões sobre a arte mesma de criar poemas, lídimas flores que emergem da imaginativa mente humana, ainda que submetida esteja às mais vis torturas.

Enquanto no primeiro poema Leminski questiona-se sobre a necessidade de se fundamentar a poesia em sólidas razões para que possa ela existir, na segunda volta-se ao seu próprio modo de criá-la, com poucas modificações sobre aquilo que já estiver registrado no papel, haja vista que, segundo lhe parece – ou melhor, uma parte de si mesmo desprezada pela outra –, trata-se de um máximo que já terá atingido o status de “clássico”.

J.A.R. – H.C.

Paulo Leminski
(1944-1989)

razão de ser
(LEMINISKI, 2017, p. 58)

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
lembram letras no papel,
quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

poesia: 1970
(LEMINISKI, 2017, p. 70)

Tudo o que eu faço
alguém em mim que eu desprezo
sempre acha o máximo.

Mal rabisco,
não dá mais pra mudar nada.
Já é um clássico.

Em: “ais ou menos”

Figura em Paisagem
(Cândido Portinari: pintor brasileiro)

Referência:

LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2017. (‘Poesia de Bolso’)

Nenhum comentário:

Postar um comentário