Decerto a poetisa mexicana refere-se, neste poema plasmado de reminiscências, aos
momentos em que viveu, ainda pequena, na casa dos pais, rodeada por árvores
junto aos muros que a circundavam, possivelmente com mais de um andar, haja vista
a menção às escadas, que agora “dormem”.
A criança que nela residia, presentemente a própria Rosario, lembra-se das
tranças gêmeas nos cabelos, e como se lhe atribuíram a missão de manter as
janelas da casa fechadas, contingência que incutiu-lhe a imagem de todo um
universo reduzido ao ambiente cinzento do interior do lar, o qual, de todo
modo, não logrou preservá-la entre as suas quatro paredes!
J.A.R. – H.C.
Rosario Castellanos
(1925-1974)
La Casa Vacía
Yo recuerdo una casa
que he dejado.
Ahora está vacía.
Las cortinas se mecen
con el viento,
golpean las maderas
tercamente
contra los muros
viejos.
En el jardín, donde
la hierba empieza
a derramar su
imperio,
en las salas de
muebles enfundados,
en espejos desiertos
camina, se desliza la
soledad calzada
de silencioso y
blando terciopelo.
Aquí donde su pie
marca la huella,
en este corredor
profundo y apagado
crecía una muchacha,
levantaba
su cuerpo de ciprés
esbelto y triste.
(A su espalda crecían
sus dos trenzas
igual que dos gemelos
ángeles de la guarda.
Sus manos nunca
hicieron otra cosa
más que cerrar
ventanas.)
Adolescencia gris con
vocación de sombra,
con destino de
muerte:
las escaleras
duermen, se derrumba
la casa que no supo
detenerte.
En: “De la Vigilia Estéril” (1950)
Nostalgia
(Vasil Vasilev: artista
búlgaro)
A Casa Vazia
Recordo uma casa que
deixei.
Agora está vazia.
As cortinas se mexem
com o vento,
os lenhos chocam-se
obstinadamente
contra os velhos
muros.
No jardim, onde a
grama começa
a derramar seu
império,
nas salas de móveis recobertos,
em espelhos desertos
caminha, desliza a
solidão calçada
de silencioso e macio
veludo.
Aqui onde o seu pé deixa
o rastro,
neste corredor
profundo e apagado,
uma menina crescia,
levantava
o seu corpo de
cipreste esbelto e triste.
(Às costas alongavam-se suas duas tranças,
que nem dois anjos da
guarda gêmeos.
Suas mãos nunca
fizeram outra coisa
senão fechar
janelas.)
Adolescência gris com
vocação de sombra,
com destino de morte:
dormem as escadas, arruína-se
a casa que não soube deter-te.
Referência:
CASTELLANOS, Rosario. La casa vacía.
In: __________. Poesía no eres tu:
obra poética – 1948-1971. 2. ed. México, DF: Fondo de Cultura Económica, 1975.
p. 51-52. (“Letras Mexicanas”)
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