Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Rosario Castellanos - A Casa Vazia ‎

Decerto a poetisa mexicana refere-se, neste poema plasmado de reminiscências, aos momentos em que viveu, ainda pequena, na casa dos pais, rodeada por árvores junto aos muros que a circundavam, possivelmente com mais de um andar, haja vista a menção às escadas, que agora “dormem”.

A criança que nela residia, presentemente a própria Rosario, lembra-se das tranças gêmeas nos cabelos, e como se lhe atribuíram a missão de manter as janelas da casa fechadas, contingência que incutiu-lhe a imagem de todo um universo reduzido ao ambiente cinzento do interior do lar, o qual, de todo modo, não logrou preservá-la entre as suas quatro paredes!

J.A.R. – H.C.

Rosario Castellanos
(1925-1974)

La Casa Vacía

Yo recuerdo una casa que he dejado.
Ahora está vacía.
Las cortinas se mecen con el viento,
golpean las maderas tercamente
contra los muros viejos.
En el jardín, donde la hierba empieza
a derramar su imperio,
en las salas de muebles enfundados,
en espejos desiertos
camina, se desliza la soledad calzada
de silencioso y blando terciopelo.

Aquí donde su pie marca la huella,
en este corredor profundo y apagado
crecía una muchacha, levantaba
su cuerpo de ciprés esbelto y triste.

(A su espalda crecían sus dos trenzas
igual que dos gemelos ángeles de la guarda.
Sus manos nunca hicieron otra cosa
más que cerrar ventanas.)

Adolescencia gris con vocación de sombra,
con destino de muerte:
las escaleras duermen, se derrumba
la casa que no supo detenerte.

En: “De la Vigilia Estéril” (1950)

Nostalgia
(Vasil Vasilev: artista búlgaro)

A Casa Vazia

Recordo uma casa que deixei.
Agora está vazia.
As cortinas se mexem com o vento,
os lenhos chocam-se obstinadamente
contra os velhos muros.
No jardim, onde a grama começa
a derramar seu império,
nas salas de móveis recobertos,
em espelhos desertos
caminha, desliza a solidão calçada
de silencioso e macio veludo.

Aqui onde o seu pé deixa o rastro,
neste corredor profundo e apagado,
uma menina crescia, levantava
o seu corpo de cipreste esbelto e triste.

(Às costas alongavam-se suas duas tranças,
que nem dois anjos da guarda gêmeos.
Suas mãos nunca fizeram outra coisa
senão fechar janelas.)

Adolescência gris com vocação de sombra,
com destino de morte:
dormem as escadas, arruína-se
a casa que não soube deter-te.

Referência:

CASTELLANOS, Rosario. La casa vacía. In: __________. Poesía no eres tu: obra poética – 1948-1971. 2. ed. México, DF: Fondo de Cultura Económica, 1975. p. 51-52. (“Letras Mexicanas”)

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