Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 7 de janeiro de 2018

William Carlos Williams - Queimando as Sempre-Verdes de Natal

Finda está a quadra natalina e, em consequência, o poeta se põe a atear fogo nas sempre-verdes que foram empregadas na decoração à volta da lareira, juntamente com algumas imagens de renazinhas brancas que, por conjectura, pelas imediações puseram-se a vaguear.

Os elementos sensoriais sobressaem nos versos do poema, como os que se dedicam a descrever a chama vermelha devorando os ramos verdes, a tudo convertendo, no desenlace, em cinzas pretas e brancas: a queima de um símbolo que esteve jungido à natividade aguça o espírito para os ciclos naturais de vida e morte.

J.A.R. – H.C.

William Carlos Williams
(1883-1963)

Burning the Christmas Greens

Their time past, pulled down
cracked and flung to the fire
– go up in a roar

All recognition lost, burnt clean
clean in the flame, the green
dispersed, a living red,
flame red, red as blood wakes
on the ash –

and ebbs to a steady burning
the rekindled bed become
a landscape of flame

At the winter’s midnight
we went to the trees, the coarse
holly, the balsam and
the hemlock for their Green

At the thick of the dark
the moment of the cold’s
deepest plunge we brought branches
cut from the green trees

to fill our need, and over
doorways, about paper Christmas
bells covered with tinfoil
and fastened by red ribbons

we stuck the green prongs
in the windows hung
woven wreatbs and above pictures
the living green. On the

mantle we built a green forest
and among those hemlock
sprays put a herd of small
white deer as if they

were walking there. All this!
and it seemed gentle and good
to us. Their time past,
relief! The room bare. We

stuffed the dead grate
with them upon the half burnt out
log’s smoldering eye, opening
red and closing under them

and we stood there looking down.
Green is a solace
a promise of peace, a fort
against the cold (though we

did not say so) a challenge
above the snow’s
hard shell. Green (we might
have said) that, where

small birds hide and dodge
and lift their plaintive
rallying cries, blocks for them
and knocks down

the unseeing bullets of
the storm. Green spruce boughs
pulled down by a weight of
snow – Transformed!

Violence leaped and appeared.
Recreant! roared to life
as the flame rose through and
our eyes recoiled from it.

In the jagged flames green
to red, instant and alive. Green!
those sure abutments... Gone!
lost to mind

and quick in the contracting
tunnel of the grate
appeared a world! Black
mountains, black and red – as

yet uncolored – and ash white,
an infant landscape of shimmering
ash and flame and we, in
that instant, lost,

breathless to be witnesses,
as if we stood
ourselves refreshed among
the shining fauna of that fire.

Negociando as Sempre-Verdes de Natal
(Eleazer H. Miller: pintor norte-americano)

Queimando as Sempre-Verdes de Natal

Findo o seu tempo, retirados
quebrados e lançados à lareira
– rugem numa labareda só

Já irreconhecíveis, pegam fogo
facil e eis que o verde verte-se
em vermelho vivo,
flamirrubro sangue desperto
sobre a cinza –
que reflui em queima regular
quando brota das brasas reacesas
uma paisagem de chamas

Na meia-noite de inverno
fomos até o bosque procurar
o verde áspero do azevinho,
do abeto-bálsamo e da tsuga

Do mergulho para dentro
do momento mais frio
da escuridão compacta, nós trouxemos
ramos de sempre-verde,

quanto precisávamos, e sobre
o vão das portas, sobre os sinos
natalinos de papel prateado
fixados com fitas vermelhas

prendemos os galhos verdes
e às janelas suspendemos
grinaldas e sobre os quadros
o verde vivo. Em cima do

consolo da lareira construímos
uma floresta verde e entre as ramagens
da tsuga pusemos um rebanho
de renazinhas brancas como se

por ali andassem. Isso tudo!
e nos parecia bom,
reconfortante. Findo o seu
tempo, alívio! A sala nua. E

atulhamos a lareira quase
extinta com eles, o olho
semiapagado de um tronco
a piscar, brasa, por debaixo

e ali ficamos vendo-os.
O verde é um reconforto
uma promessa de paz, um forte
contra o frio (embora não

o disséssemos nós) um desafio
acima da neve, casca
rija. O verde (poderíamos
ter dito) que, refúgio

de esquivos passarinhos
a lançarem dali os seus queixosos
chamamentos, serve de anteparo
a eles, protegendo-os

dos invisíveis projéteis
da tempestade. Verdes ramos
de abeto vergados sob o peso
da neve – Transformados!

A violência irrompeu, mostrou-se.
E, traidora!, rugiu viva
quando a chama forçou, erguendo-se,
nossos olhos a recuarem.

Nos dentes das chamas, verde
a vermelho, instantâneos. Verde!
os esteios firmes... Derrocados!
perdidos para a mente

e pronto, na lareira
em meio ao túnel que se estreita
um mundo apareceu! Os negros
montes, negros e vermelhos – inda

quase sem cor – e cinza-branca
uma tenra paisagem luzente
cinza e chama e nós, naquele
instante, nós sem fôlego

nem rumo, testemunhas,
como se revigorados
estivéssemos nós mesmos entre
a fauna fulgente desse fogo.

Referência:

WILLIAMS, William Carlos. Burning the christmas greens / Queimando as sempre-verdes de natal. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e estudo crítico de José Paulo Paes. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1987. Em inglês: p. 156, 158 e 160; em português: p. 157, 159 e 161.

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