Finda está a quadra natalina e, em consequência, o poeta se põe a atear
fogo nas sempre-verdes que foram empregadas na decoração à volta da lareira,
juntamente com algumas imagens de renazinhas brancas que, por conjectura, pelas
imediações puseram-se a vaguear.
Os elementos sensoriais sobressaem nos versos do poema, como os que se
dedicam a descrever a chama vermelha devorando os ramos verdes, a tudo
convertendo, no desenlace, em cinzas pretas e brancas: a queima de um símbolo que
esteve jungido à natividade aguça o espírito para os ciclos naturais de vida e
morte.
J.A.R. – H.C.
William Carlos Williams
(1883-1963)
Burning the Christmas Greens
Their time past, pulled
down
cracked and flung to
the fire
– go up in a roar
All recognition lost,
burnt clean
clean in the flame,
the green
dispersed, a living
red,
flame red, red as
blood wakes
on the ash –
and ebbs to a steady
burning
the rekindled bed
become
a landscape of flame
At the winter’s
midnight
we went to the trees,
the coarse
holly, the balsam and
the hemlock for their
Green
At the thick of the
dark
the moment of the
cold’s
deepest plunge we
brought branches
cut from the green
trees
to fill our need, and
over
doorways, about paper
Christmas
bells covered with
tinfoil
and fastened by red
ribbons
we stuck the green
prongs
in the windows hung
woven wreatbs and
above pictures
the living green. On
the
mantle we built a
green forest
and among those
hemlock
sprays put a herd of
small
white deer as if they
were walking there.
All this!
and it seemed gentle
and good
to us. Their time
past,
relief! The room
bare. We
stuffed the dead
grate
with them upon the
half burnt out
log’s smoldering eye,
opening
red and closing under
them
and we stood there
looking down.
Green is a solace
a promise of peace, a
fort
against the cold (though
we
did not say so) a
challenge
above the snow’s
hard shell. Green (we
might
have said) that,
where
small birds hide and
dodge
and lift their
plaintive
rallying cries,
blocks for them
and knocks down
the unseeing bullets
of
the storm. Green
spruce boughs
pulled down by a
weight of
snow – Transformed!
Violence leaped and
appeared.
Recreant! roared to
life
as the flame rose
through and
our eyes recoiled from
it.
In the jagged flames green
to red, instant and
alive. Green!
those sure
abutments... Gone!
lost to mind
and quick in the
contracting
tunnel of the grate
appeared a world!
Black
mountains, black and
red – as
yet uncolored – and
ash white,
an infant landscape of
shimmering
ash and flame and we,
in
that instant, lost,
breathless to be
witnesses,
as if we stood
ourselves refreshed
among
the shining fauna of
that fire.
Negociando as Sempre-Verdes de Natal
(Eleazer H. Miller:
pintor norte-americano)
Queimando as Sempre-Verdes de Natal
Findo o seu tempo,
retirados
quebrados e lançados
à lareira
– rugem numa labareda
só
Já irreconhecíveis,
pegam fogo
facil e eis que o
verde verte-se
em vermelho vivo,
flamirrubro sangue
desperto
sobre a cinza –
que reflui em queima
regular
quando brota das
brasas reacesas
uma paisagem de
chamas
Na meia-noite de
inverno
fomos até o bosque
procurar
o verde áspero do
azevinho,
do abeto-bálsamo e da
tsuga
Do mergulho para
dentro
do momento mais frio
da escuridão
compacta, nós trouxemos
ramos de
sempre-verde,
quanto precisávamos,
e sobre
o vão das portas,
sobre os sinos
natalinos de papel
prateado
fixados com fitas
vermelhas
prendemos os galhos
verdes
e às janelas
suspendemos
grinaldas e sobre os
quadros
o verde vivo. Em cima
do
consolo da lareira
construímos
uma floresta verde e
entre as ramagens
da tsuga pusemos um
rebanho
de renazinhas brancas
como se
por ali andassem.
Isso tudo!
e nos parecia bom,
reconfortante. Findo
o seu
tempo, alívio! A sala
nua. E
atulhamos a lareira
quase
extinta com eles, o
olho
semiapagado de um
tronco
a piscar, brasa, por
debaixo
e ali ficamos
vendo-os.
O verde é um reconforto
uma promessa de paz,
um forte
contra o frio (embora
não
o disséssemos nós) um
desafio
acima da neve, casca
rija. O verde
(poderíamos
ter dito) que,
refúgio
de esquivos
passarinhos
a lançarem dali os
seus queixosos
chamamentos, serve de
anteparo
a eles, protegendo-os
dos invisíveis projéteis
da tempestade. Verdes
ramos
de abeto vergados sob
o peso
da neve –
Transformados!
A violência irrompeu,
mostrou-se.
E, traidora!, rugiu viva
quando a chama
forçou, erguendo-se,
nossos olhos a recuarem.
Nos dentes das
chamas, verde
a vermelho,
instantâneos. Verde!
os esteios firmes...
Derrocados!
perdidos para a mente
e pronto, na lareira
em meio ao túnel que
se estreita
um mundo apareceu! Os
negros
montes, negros e
vermelhos – inda
quase sem cor – e
cinza-branca
uma tenra paisagem
luzente
cinza e chama e nós,
naquele
instante, nós sem
fôlego
nem rumo,
testemunhas,
como se revigorados
estivéssemos nós
mesmos entre
a fauna fulgente
desse fogo.
Referência:
WILLIAMS, William Carlos. Burning the
christmas greens / Queimando as sempre-verdes de natal. Tradução de José Paulo
Paes. In: __________. Poemas.
Seleção, tradução e estudo crítico de José Paulo Paes. São Paulo, SP: Companhia
das Letras, 1987. Em inglês: p. 156, 158 e 160; em português: p. 157, 159 e
161.
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