Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Jayanta Mahapatra - Um Dia de Chuva ‎

A constar numa seleta de 60 (sessenta) poetas indianos que se expressam no idioma inglês, este poema, tal como o de Bly – postado há poucos dias –, também se concentra em fixar paralelos entre aquilo que se vê e aquilo que, sem estar exposto aos olhos, se pressente ou se intui por outros meios.

Há a chuva em primeiro plano, mas também um verão auspicioso, que não se divisa daqui, por trás das encostas; o uivar do vento e o canto dos grilos, nessa paisagem, bem assim coisas que fenecem no lado oculto da folha de relva. E, ao fim, pergunta-se o poeta sobre o que prevalece dentro do poço escuro do amor: se “arte, cerimônia ou voz a jazer sob a sua despretensiosa escuta da chuva?”‎.

J.A.R. – H.C.

Jayanta Mahapatra
(n. 1928)

A Day of Rain

Once again, it has been a day of rain.
And I hear the flutter of light feet
on the warm earth, excited wings
loosening from the dark. There’s
a summer hiding away behind the hills,
a haunting dream whose meaning
always escape me,
like the sad shut tufts of mimosa,
hanging there tame and weeping
for the lost touch.
What thin air your face is now,
now that I touch it. Out here,
the stupid code of the crickets,
the wind’s low whine; who knows
what’s dying underneath
a growing blade of grass?
Or what habit palpitates
inside the dark pit of love:
art, ceremony or voice that lies
under my aimless hearing of the rain?

Dia Chuvoso
(Sunil Linus De: pintor indiano)

Um Dia de Chuva

Uma vez mais, o dia deu em chuvoso.
E ouço o vibrar de pés ligeiros
sobre a terra quente, asas excitadas
a aflorar da escuridão. Há
um verão que se esconde atrás das colinas,
um sonho inquietante cujo significado
sempre me escapa,
como os tristes folíolos selados da mimosa,
pendente acolá, mansa e a contristar-se
pelo toque perdido.
Quão delgado é o seu aspecto agora,
agora que eu a toco.
Aqui fora,
o estúpido código dos grilos,
o uivo débil do vento; quem percebe
o que está definhando por baixo
de uma vicejante folha de relva?
Ou qual o hábito que palpita
dentro do poço escuro do amor:
arte, cerimônia ou voz a jazer
sob a minha despretensiosa escuta da chuva?

Referência:

MAHAPATRA, Jayanta. A day of rain. In: THAYIL, Jeet (Ed.). 60 indian poets. New Delhi, IN: Penguin Books India, 2008. p. 311-312.

Nenhum comentário:

Postar um comentário