Redigir poemas, para o poeta, parece-se com o que ocorre a qualquer um,
sem que haja compromisso sério com os resultados da ação ou da inércia, como os
fatos naturalísticos do que há no entorno, mediação casual entre as forças
vivas e inorgânicas sobre a terra.
Assim, o vate incorpora ao seu próprio “modus vivendi” o ato mesmo de criação
das suas composições poéticas, quase as equiparando aos elementos fisiológicos
da existência, regulação e metabolismo das vibrações universais de tudo quanto ousa expressar o bem, o belo e o verdadeiro.
J.A.R. – H.C.
Walmir Ayala
(1933-1991)
Arte Poética
A Jorge Octavio Mourão
Faço poema às vezes
com a displicência
de um risco sem
figura,
como a preguiça de um
gesto
sem destino,
às vezes como o
adormecimento
no mormaço,
como o tremor de uma
lágrima
de espanto;
faço poema às vezes
como a faina
de colher flores, de
passar os dedos
nas águas, de
voltar-me
por não ver nada mais
do que sonhava;
faço poema às vezes
como a máquina
registra, como o dedo
segue
a linha da leitura,
como a força
invisível de virar
a página de um livro
casual;
mas às vezes faço
poema erguendo
um punhal contra a
rosa, ou contra mim,
como quem morre e
resiste e quer morrer, assim
faço poema, às vezes.
Faço poema sempre
como vivo.
Em: “Antologia Poética”;
Editora Leitura. Rio, 1965.
Jovem a Escrever
(Jean-Louis E.
Meissonier: pintor francês)
Referência:
AYALA, Walmir. Arte poética. In:
BANDEIRA, Manuel; AYALA, Walmir (Orgs.). Antologia
dos poetas brasileiros: fase moderna; depois do modernismo. Rio de Janeiro,
GB: Edições de Ouro & Tecnoprint, 1967. p. 192-193.
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