O prazer sadomasoquista aparece neste poema metaforizado na figura das
peônias, talvez pela associação de sua cor às lacerações sobre a carne a verter
sangue, provocadas por chicotes ou outros instrumentos de tortura, ou mesmo em
razão do aspecto de seus folíolos ou lóbulos, como o das mucosas que conformam
o órgão sexual feminino.
Cole dirige-se a um não limitado público que se dedica a expressar o
mencionado tipo de prazer, próximo à bestialidade pura, distorcendo o propósito
maior do sexo, enquanto expressão do amor autêntico que alguém é capaz de
sentir por outrem.
A propósito, o tema, que na obra maior de Proust – “À Procura dos Tempos
Perdidos” (“À la Recherche du Temps Perdu”) (1923) –, mais exatamente no tomo “Sodoma
e Gomorra”, aparece na prática sadomasoquista do invertido Barão de Charlus,
retornou aos dias de hoje, com a publicação do livro “Cinquenta Tons de Cinza”
(“Fifty Shades of Grey”) (2011), da autora inglesa Erika Leonard James, levado
às telas do cinema, em 2015, sob a direção de Sam Taylor-Wood.
J.A.R. – H.C.
Henri Cole
(n. 1956)
Peonies
Ample creamy heads
beaten down vulgarly,
as if by some deeply
sado-masochistic impulse,
like the desire to
subdue, which is normal and active,
and the desire for
suffering, which is not;
papery white
featherings stapled to long stalks,
sopped with rain and
thrown about violently,
as Paul was from his
horse by the voice of Christ,
as those he judged
& condemned were, leaving the earth;
and, deeper in, tight
little buds that seem to blush
from the pleasure
they take in being submissive,
because absolute
humility in the face of cruelty
is the Passive’s way
of becoming himself;
the groan of it all,
like a penetrated body –
those of us who hear
it know the feeling.
Peônias
(Julian Merrow-Smith:
pintor inglês)
Cabeças cremosas à
farta vulgarmente dominadas,
como que por algum impulso
deveras sadomasoquista,
a aliar o desejo por
subjugar, que é normal e ativo,
ao desejo por
martirizar-se, que não é;
Plumas brancas, finas
como papel, grampeadas em longas hastes,
empapadas pela chuva
e atiradas à volta com violência,
como Paulo o foi de
seu cavalo pela voz de Cristo;
como o foram os que
ele julgou e condenou, ao deixar a terra;
e, mais ao cerne, firmes
e miúdos brotos que parecem ruborizar
pelo prazer que
desfrutam em ser submissos,
porque a humildade
absoluta frente à crueldade
é o modo Passivo de
converter-se em si mesmo;
o gemido disso tudo,
como um corpo penetrado –
aqueles de nós que o
ouvimos conhecem a sensação.
Referência:
COLE, Henri. Peonies. In: McCLATCHY, J.
D. (Ed.). The vintage book of
contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 578.
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