O poeta declina os seus preceitos pedagógicos para quem quiser se acercar
de um poema qualquer, orientando o leitor a realmente ouvir-lhe os sons, o seu
aspecto visual, de modo a experimentá-lo do jeito como de fato é, ou melhor, não
ao modo tradicional, senão pelo método iconoclasta incorporado às metáforas de
seus versos.
Projetar o poema à contraluz permite-nos explicitar as imagens contidas
em seu interior e o tinido que delas aflora, vaguear qual um rato pelas diferentes
estruturas que o configuram – suas formas e tamanhos –, penetrando em seu
labirinto sem nos sentirmos perdidos, perscrutando-lhe a saída.
Outra metáfora empregada por Collins é a de um poema e suas estrofes
como os vários compartimentos de uma casa, que precisam ser iluminados para
serem compreendidos em sua urdidura, e passando de seu interior à superfície,
esquiar sobre suas águas, acenando para o autor, que se encontra à margem, mantendo,
por conseguinte, certo distanciamento da criação ao criador.
E contemplemos os versos derradeiros deste poema: o ato de apreciar uma
poesia, decerto, não é como prendê-la e fustigá-la até que ela confesse ideias
ou propósitos não tencionados em sua concepção, os quais, muitas das vezes, se
passam apenas no juízo do intérprete, pois a tortura não tem lugar na hermenêutica
do poema!
J.A.R. – H.C.
Billy Collins
(n. 1941)
Introduction to Poetry
I ask them to take a
poem
and hold it up to the
light
like a color slide
or press an ear
against its hive.
I say drop a mouse
into a poem
and watch him probe
his way out,
or walk inside the
poem’s room
and feel the walls
for a light switch.
I want them to
waterski
across the surface of
a poem
waving at the author’s
name on the shore.
But all they want to
do
is tie the poem to a
chair with rope
and torture a
confession out of it.
They begin beating it
with a hose
to find out what it
really means.
Mulher e Um Vaso de Flores
(A. C. W. Duncan:
artista britânico)
Introdução à Poesia
Peço-lhes que tomem
um poema
e o mantenham contra
a luz
como um diapositivo
de cor
ou aproximem uma
orelha contra a sua colmeia.
Ordeno-lhes que
soltem um rato dentro do poema
e o vejam sondar pelo
seu ponto de saída,
ou caminhem pelo
aposento do poema
a tatear-lhe as paredes
em busca de um interruptor.
Quero que pratiquem
esqui aquático
por sobre a
superfície de um poema
acenando ao nome do autor recolhido à orla.
No entanto tudo o que
eles querem fazer
é atar o poema com
corda a uma cadeira
e torturá-lo até
confessar.
Começam a fustigá-lo
com uma mangueira
para descobrir o seu
real significado.
Referência:
COLLINS, Billy. Introduction to poetry.
In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin
anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin
Books, 2013. p. 381.
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