Vejam a sensibilidade já aflorada numa garota de quatorze anos, que
redigiu o poema abaixo em resposta a um evento fortuito que lhe danificou a
aquarela recém-acabada de uma natureza-morta: trata-se, indubitavelmente, de
uma poesia penetrante, a refletir sensações opressivas, muito provavelmente presentes
no espírito da poetisa.
Sylvia percebe que não tem nada de invulnerável e, tanto quanto os seus
pares, está de fato exposta às alegrias e tristezas que assomam ao coração
humano, esse poço profundo, exposto como espelho às ondas do pensamento, que
ora solta o seu canto, ora o seu lamento.
J.A.R. – H.C.
Sylvia Palth
(1932-1963)
I thought that I could not be hurt
I thought that I
could not be hurt;
I thought that I must
surely be
impervious to
suffering −
immune to mental pain
or agony.
My world was warm
with April sun
my thoughts were
spangled green and gold;
my soul filled up
with joy, yet felt
the sharp, sweet pain
that only joy
can hold.
My spirit soared
above the gulls
that, swooping
breathlessly so high
o’erhead, now seem to
brush their whirring
wings against the
blue roof
of the sky.
(How frail the human
heart must be −
a throbbing pulse, a
trembling thing −
a fragile, shining
instrument
of crystal, which can
either weep,
or sing.)
Then, suddenly my world
turned gray,
and darkness wiped
aside my joy.
A dull and aching
void was left
where careless hands
had reached out to destroy
my silver web of
happiness.
The hands then
stopped in wonderment,
for, loving me, they
wept to see
the tattered ruins of
my firmament.
(How frail the human
heart must be –
a mirrored pool of
thought. So deep
and tremulous an instrument
of glass that it can either sing,
or weep.)
Pintura Sem Título
(Nydia
Lozano: pintora espanhola)
Eu pensei que não poderia ser magoada
Eu pensei que não poderia ser magoada;
pensei que deveria ser de fato
insensível ao sofrimento –
imune à dor mental
ou à angústia.
Um sol de abril tornava cálido o meu
mundo,
Meus pensamentos matizados de verde e
dourado;
minh’alma, repleta de enlevo, sentia
porém
a dor lacerante e doce que só a alegria
pode conter.
Meu espírito pairava por sobre as
gaivotas
que, sulcando sem alento as alturas
mais acima, pareciam agora roçar suas
asas
zumbentes contra o teto azul
do céu.
(Quão frágil deve ser o coração humano
–
um pulso latejante, uma coisa trêmula –
um instrumento frágil e brilhante
de cristal, que pode chorar
ou cantar.)
Então, de repente meu mundo se fez
cinza,
e as trevas dissiparam minha alegria.
Um tedioso e pungente vazio subsistiu
onde mãos remissas haviam intentado
destruir
a prateada rede da minha felicidade.
As mãos se detiveram, então, assombradas,
e, como me amavam, choraram ao ver
as ruínas em frangalhos do meu
firmamento.
(Quão frágil deve ser o coração humano
–
um poço a espelhar o pensamento. Um tão
profundo e trêmulo instrumento
de vidro que pode cantar
ou chorar.)
Referência:
PLATH,
Sylvia. I thought that I could not be hurt. In: PLATH, Aurelia Schober (Ed.). Letters home by Sylvia Plath:
correspondence 1950-1963; Introduction. New York, NY: Harper & Row,
1975. p. 33-34.
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