Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Sylvia Plath - Eu pensei que não poderia ser magoada

Vejam a sensibilidade já aflorada numa garota de quatorze anos, que redigiu o poema abaixo em resposta a um evento fortuito que lhe danificou a aquarela recém-acabada de uma natureza-morta: trata-se, indubitavelmente, de uma poesia penetrante, a refletir sensações opressivas, muito provavelmente presentes no espírito da poetisa.

Sylvia percebe que não tem nada de invulnerável e, tanto quanto os seus pares, está de fato exposta às alegrias e tristezas que assomam ao coração humano, esse poço profundo, exposto como espelho às ondas do pensamento, que ora solta o seu canto, ora o seu lamento.

J.A.R. – H.C.

Sylvia Palth
(1932-1963)

I thought that I could not be hurt

I thought that I could not be hurt;
I thought that I must surely be
impervious to suffering −
immune to mental pain
or agony.

My world was warm with April sun
my thoughts were spangled green and gold;
my soul filled up with joy, yet felt
the sharp, sweet pain that only joy
can hold.

My spirit soared above the gulls
that, swooping breathlessly so high
o’erhead, now seem to brush their whirring
wings against the blue roof
of the sky.

(How frail the human heart must be −
a throbbing pulse, a trembling thing −
a fragile, shining instrument
of crystal, which can either weep,
or sing.)

Then, suddenly my world turned gray,
and darkness wiped aside my joy.
A dull and aching void was left
where careless hands had reached out to destroy
my silver web of happiness.
The hands then stopped in wonderment,
for, loving me, they wept to see
the tattered ruins of my firmament.

(How frail the human heart must be –
a mirrored pool of thought. So deep
and tremulous an instrument
of glass that it can either sing,
or weep.)

Pintura Sem Título
(Nydia Lozano: pintora espanhola)

Eu pensei que não poderia ser magoada

Eu pensei que não poderia ser magoada;
pensei que deveria ser de fato
insensível ao sofrimento –
imune à dor mental
ou à angústia.

Um sol de abril tornava cálido o meu mundo,
Meus pensamentos matizados de verde e dourado;
minh’alma, repleta de enlevo, sentia porém
a dor lacerante e doce que só a alegria
pode conter.

Meu espírito pairava por sobre as gaivotas
que, sulcando sem alento as alturas
mais acima, pareciam agora roçar suas asas
zumbentes contra o teto azul
do céu.

(Quão frágil deve ser o coração humano –
um pulso latejante, uma coisa trêmula –
um instrumento frágil e brilhante
de cristal, que pode chorar
ou cantar.)

Então, de repente meu mundo se fez cinza,
e as trevas dissiparam minha alegria.
Um tedioso e pungente vazio subsistiu
onde mãos remissas haviam intentado destruir
a prateada rede da minha felicidade.
As mãos se detiveram, então, assombradas,
e, como me amavam, choraram ao ver
as ruínas em frangalhos do meu firmamento.

(Quão frágil deve ser o coração humano –
um poço a espelhar o pensamento. Um tão
profundo e trêmulo instrumento
de vidro que pode cantar
ou chorar.)

Referência:

PLATH, Sylvia. I thought that I could not be hurt. In: PLATH, Aurelia Schober (Ed.). Letters home by Sylvia Plath: correspondence 1950-1963; Introduction. New York, NY: Harper & Row, 1975. p. 33-34.

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