Lá pelas tantas da madrugada, na denominada calada da noite, o poeta
experimenta em seus ouvidos a inércia dos ruídos que fazem a sequência das
horas do dia, lembranças que surgem como ecos a reverberar, ainda que, de fato,
poucos sejam os sons audíveis, como o barulho do refrigerador ou o rumorejar
das árvores a balançar.
Imagino que, na terceira estrofe do poema – se outro não for o sentido –,
o poeta alude ao personagem Cherubino (Querubim), da ópera “As Bodas de Fígaro”,
de Mozart, o qual, em uma das árias, afirma que o amor lhe revolve o espírito,
quer esteja acordado quer sonhando, e todas as suas exortações levam-nas para
longe as fontes e os ventos.
J.A.R. – H.C.
W. S. Di Piero
(n. 1945)
It’s That Time
The silence of night
hours
is never really
silent.
You hear the air,
even when it doesn’t
stir.
It’s a memory of the
day.
Nothing stirs. Memory
lags.
No traffic hushing up
and down tricky hills
among the camphor
trees.
No foghorns, no
streetcars’
shrilling phantoms
before
they emerge from
tunnels.
These absences keep
us alert.
No rain or street
voices,
nobody calling to
someone else,
Hannah, you walk the dog
tonight yet or what?
Only certain things
to hear:
The sexy shifting of
trees,
the refrigerator
buzzing
while Cherubino sings
the best of love is
enthusiasm’s
intense abandon, a
voice
in song that preys on
no one
and is unconscious of
its joy.
O Silêncio da Noite
(Johan Knutson:
pintor sueco)
Esse é o Momento
A calada das horas
noturnas
nunca é realmente
silenciosa.
Você escuta o ar,
mesmo quando não se move.
É uma recordação do
dia.
Nada se agita. A
recordação protrai-se.
Nenhum tráfego sibilante no
sobe e
desce rumo às intricadas
colinas
entre as canforeiras.
Nenhuma sirene de névoa, nem estridulantes
espectros de trólebus antes
que emerjam dos túneis.
Nenhuma chuva ou vozes de rua,
Essas ausências mantêm-nos
alerta.
Ninguém ligando para outra pessoa,
Hannah, você leva o cão para passear
ainda esta noite?
Apenas certas coisas
para ouvir:
o movimento sensual das
árvores,
o zumbido do
refrigerador,
enquanto o Cherubino entoa
que o melhor do amor
é o intenso
abandono do
entusiasmo, uma voz
na canção, inconsciente
de sua alegria
e que a ninguém
perturba.
Referência:
DI PIERO, W. S. It’s that time. Poetry Magazine, Chicago, IL: Poetry
Foundation, v. 198, n. 1, p. 25, apr. 2011.
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