Tal como o poema postado na última quinta-feira, esta poesia também
adota o silêncio como tema, embora, distintamente daquele, as miradas
privilegiadas descrevem ocorrências que se passam muito provavelmente num
bosque, e não no núcleo urbano.
Ela avança em linhas que reforçam o teor dos versos que as precedem, num
fluir sem efeitos elípticos ou complexidades, tão transparente ao leitor que
quase não permite superposições de escólios que divirjam de um núcleo comum, destinado,
pois, ao consenso.
J.A.R. – H.C.
Menina Com Uma Flor
(Jacob Gerritszoon
Cuyp: pintor holandês)
Le Silence
Si l’on s’arrète pour
entendre
Pour entendre le
silence
L’on entendra un
bourdonnement
Un bourdonnement de
silence.
D ’une étoile de la
nuit tombera une vague lueur
Pour éclairer le
silence, le silence des silences.
Un lapin s’arrêtera,
s’arrêtera indécis
Troublé par la voix
majestueuse du silence
II cherchera son
terrier, son terrier forestier
Et dans l’ombre de la
nuit il ne le trouvera pas.
Un sapin s’endormira
sous les branches de sa mère
Sous les branches de
sa mère s’endormira,
Et d’une voix suave
le silence chantera
Les louanges du
silence.
Sequoias Vermelhas Gigantes da Califórnia
(Albert Bierstadt: pintor germano-americano)
O Silêncio
Se a gente para a fim
de escutar
A fim de escutar o
silêncio
A gente ouve um
zumbido
Um zumbido de
silêncio.
De uma estrela da
noite cai um vago clarão
Para clarear o
silêncio, o silêncio dos silêncios.
Um coelho se detém,
se detém indeciso
Perturbado pela voz
majestosa do silêncio
Ele procura sua toca,
sua toca na mata
E na sombra da noite
não a encontra.
Um pinheiro adormece
sob os braços de sua mãe
Sobre os braços de
sua mãe ele adormece
E numa voz suave o
silêncio canta
Os louvores do
silêncio.
Nota de Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães:
A tradução do poema “Silence” de Marie-Laure David foi publicada no final do artigo “Poesia de França”, que saiu no Correio da Manhã de 20 de junho de 1948. O artigo comenta a antologia Poètes d’aujourd’hui (1947), organizada por Dominique Aury e Jean Paulhan, na qual se encontra o poema traduzido. A autora é referida como sendo uma menina de dez anos – era neta de Jules Supervielle e veio a publicar alguns livros (ANDRADE, 2001, p. 396).
Referência:
DAVID, Marie-Laure. Le silence / O
silêncio. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia
traduzida. Organização e notas de Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães.
Introdução de Júlio Castañon Guimarães. São Paulo, SP: Cosac Naify, 2011. Em francês:
p. 128; em português: p. 129. (Coleção “Ás de colete”; 20)
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