De um poema em doze partes, cada uma a corresponder aos doze meses do
ano, vem a postagem deste dia, já avançado no presente janeiro, o qual, no
hemisfério norte, situa-se no meio da estação meteorológica do inverno, entre o
solstício de dezembro e o equinócio de março.
Daí as menções, ao longo de suas estrofes em forma de quadra, à queda da
neve e ao voo dos pássaros em direção ao sul, assim que o outono se encerra,
até que cheguem as “horas suaves” de abril, e a primavera multicolorida se
sobreponha à paisagem uniformemente nívea.
J.A.R. – H.C.
François Coppée
(1842-1908)
Janvier
Songes-tu parfois,
bien-aimée,
Assise près du foyer
clair,
Lorsque sous la porte
fermée
Gémit la bise de l’hiver,
Qu’après cette automne
clémente,
Les oiseaux, cher
peuple étourdi,
Trop tard, par un
jour de tourmente,
Out pris leur vol
vers le Midi;
Que leurs ailes,
blanches de givre,
Sonc lasses d’avoir
voyagé;
Que sur le long
chemin à suivre
Il a neigé, neigé,
neigé;
Et que, perdus dans
la rafale,
Ils sont là, transis
et sans voix,
Eux dont la chanson triomphale
Charmait nos courses
dans les bois?
Hélás! comme il faut
qu’il en meure
De ces émigrés grelottants!
Y songes-tu? Moi, je
les pleure,
Nos chanteurs du dernier
printemps.
Tu parles, ce soir où
tu m’aimes,
Des oiseaux du
prochain Avril;
Mais ce ne seront
plus les mêmes,
Et ton amour
attendra-t-il?
É Inverno
(Gogi Chagelishvili:
pintor georgiano)
Janeiro
Acaso, pensas, amada,
– Unida ao claro
fogão,
Por sob a porta
fechada
Geme o hibernal
furacão; –
Que após o outono
piedoso,
Os pássaros, povo
exul, (*)
Por um dia tormentoso
Voaram todos ao Sul?
Que suas asas nevadas
Fatigou tanto viajar,
E sobre as longas
estradas
’Steve a nevar, a
nevar?...
E, mudos, tristes,
transidos,
Perderam-se nas
solidões?
Que passeávamos
unidos
À voz das suas
canções?
Ei! Sob os gelos
perecem!
Trêmulo bando
infeliz!
Pensas neles?
Emudecem
Seus cantos
primaveris!
Falas-me em horas
suaves,
Das aves de abril em
flor.
Mas outras serão as
aves,
E esperará teu
amor?...
Valentim Magalhães
(29 de abril de 1881)
Nota de Múcio Leão:
Os Meses
Foi este poema traduzido em colaboração por Valentim Magalhães e Raimundo Correia. Publicado em “A Comédia” nos meses de abril e maio de 1881, trazia cada dia a assinatura de seus autores.
Dois números desse poema – “Maio” e
“Dezembro” – foram feitos sem colaboração de Valentim Magalhães; e Raimundo
Correia, por esse motivo, os recolheu à coletânea das Sinfonias. Dois números – o de “Janeiro” e o de “Agosto” – foram feitos
só por Valentim. (CORREIA, 1948, p. 448)
Elucidário:
Exul – Exilado, desterrado.
Referência:
COPPÉE, François. Janvier / Janeiro.
Tradução de Valentim Magalhães. In: __________. Poesias completas de Raimundo Correia. Vol. II. Organização,
prefácio e notas de Múcio Leão. São Paulo, SP: Companhia Editora Nacional,
1948. Em francês: p. 449; em português: p. 373-374.
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