Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Dora Ferreira da Silva - Ano Novo ‎

Um ano novo que se parece a um jardim, o qual, se ponderarmos no plano fático e não no metafórico, só se dignará a desabrochar em flor nesta época do ano, em lento movimento, caso no hemisfério sul: latejam no horto os segredos das notícias por vir, a se traduzirem em estrelas capazes de retratar os nossos mais recônditos desejos.

Para cada ponto cadente, lídimo pássaro estelar, ascende do solo um confidencial pedido: que a nossa sorte de ontem se mantenha – caso positiva –, e que se reverta a momentos de ventura nos próximos doze meses – se desfavorável.

J.A.R. – H.C.

Dora Ferreira da Silva
(1918-2006)

Ano Novo

Prepara-se o jardim.
Há um movimento do botão à flor
em câmera lenta.
O rosto pequeno das violetas
esconde seu perfume nas folhas
sussurrando segredos.
Salta o sabiá na aragem
e suplica à rosa de ontem
que não desfolhe seu rubor.

Promete a nova noite
a estrela que quisermos.
O CISNE – constelação que amamos –
cintila noutro céu.
Entre ar e folhagem
o pedido calado alcança
um pássaro estelar.

Em: “Poemas da estrangeira –
Ciclo da montanha” (1995)

O Grande Cometa de 1860
sobre Roterdã
(Lieve Verschuier: pintor holandês)

Referência:

FERREIRA DA SILVA, Dora. Ano novo. In: __________. Poesia reunida. Rio de Janeiro, RJ: Topbooks, 1999. p. 291.


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