A voz poética, passível de ser referenciada ao próprio poeta espanhol,
dirige-se a um amigo, também poeta – embora de menor quilate –, que busca por algum
reconhecimento, ainda que tardio, ou por outra, conquanto posterior à sua
própria morte, por parte dos mesmos críticos que deram ao seu trabalho uma terrível
reputação enquanto vivo.
Pelo que pude apurar, alguns leitores interpretaram o infratranscrito
poema como uma invectiva de Brines dirigida ao poeta conterrâneo Gil de Biedma,
que alguns anos antes publicara o livro “Poemas póstumos”, fato logo negado
pelo primeiro, que escreveu a Biedma para desfazer o mal-entendido.
J.A.R. – H.C.
Francisco Brines
(n. 1932)
Poeta póstumo
Sorprende la noticia,
pues me dicen
que escribes versos
muy desvergonzados
(versos de tu
experiencia cotidiana,
presumo con certeza),
y que esperas
que se publiquen
póstumos; entonces
alcanzarás la fama
que te niegan
los que, al leerte,
aburres tanto. Sabe
que hablan de ti,
pues, tienes mucha fama,
aunque en verdad muy
mala, y esos cuentos
los saben de corrida,
y mejorados.
Viejo poeta amigo, ya
los tiempos
serán tan diferentes
cuando editen
tus versos
censurados, que leídos
serán tan sólo ya
banalidades,
como banales son esos
sucesos
que ahora cuentan de
ti tus enemigos
con prosa no mejor
que tus poemas.
De: “Aún no” (1971)
Homem
(Pino Daeni: pintor
ítalo-americano)
Poeta póstumo
Surpreende a notícia,
pois me dizem
que escreves versos
muito desavergonhados
(versos de tua
experiência cotidiana,
presumo com certeza),
e que esperas
sejam eles publicados
postumamente; então
alcançarás a fama que
te negam
os que, ao lerem-te,
tanto entedias. Certo é
que falam de ti, pois
tens muita fama,
embora em verdade
muito má, e esses relatos
sabem-nos de cor, e
melhorados.
Velho poeta amigo, já
os tempos
serão tão diferentes,
quando editarem
teus censurados
versos, que lidos
parecerão apenas rematadas
banalidades,
como banais são essas
ocorrências
que agora contam de
ti teus inimigos
com prosa não melhor
que teus poemas.
De: “Ainda não” (1971)
Referência:
BRINES, Francisco. Poeta póstumo. In:
__________. Antología poética.
Selección y prólogo de José Olivio Jiménez. Madrid, ES: Alianza Editorial,
1986. p. 107. (“Sección: Literatura”; “El Libro de Bolsillo”; LB 1190)
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