A voz lírica, atribuível ao próprio poeta – em cujo peito se encontra a
extinta chama de menino –, associa um a um dos três reis magos às instâncias do
céu, do purgatório e do inferno, relacionando-os cada qual, ademais, a um
sentimento próprio, a saber, amor, pesar e tédio, respectivamente.
Tudo se passa no espírito do vate, onde superados estão os atributos da
aurora da vida, tal que por agora se vê imerso na mescla dual e enigmática do bem
e do mal, e a sua variante catártica, capaz de libertar a alma dos
desregramentos pelos quais eventualmente transitou.
J.A.R. – H.C.
Alphonsus de Guimaraens
(1870-1921)
Canção dos Três Reis Magos
O menino que quereis
Está morto no meu peito:
Procurai, Senhores Reis,
Que o encontrareis no seu leito.
Os três Reis Magos do
Oriente
Chegaram sem que eu
soubesse.
Tristemente,
tristemente,
O primeiro do Céu
desce.
Já não quero o teu
afago,
Meu amor, pobre Rei
Mago!
O segundo Rei do
Oriente
Do Purgatório chegou.
Tristemente,
tristemente,
Quantas lágrimas
chorou...
Enxuga o olhar mudo e
vago,
Meu pesar, pobre Rei
Mago!
O terceiro Rei do
Oriente
Vem do Inferno, e
está de luto.
Tristemente,
tristemente,
Os seus gemidos
escuto.
Ah! como tu vens pressago,
Tédio atroz, pobre
Rei Mago!
Os Três Reis
(Edmund Lewandowski:
artista norte-americano)
Referência:
GUIMARAENS, Alphonsus de. Canção dos
três reis magos. In: __________. Poesia
completa. Organização de Alphonsus de Guimaraens Filho, com a colaboração
de Alexei Bueno e Afonso Henriques Neto. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova
Aguilar, 2001. p. 200. (Biblioteca luso-brasileira: Série brasileira)
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