Publicado em “The Winding Stair and Other Poems” (“A Escada em Caracol e
Outros Poemas”), de 1933, este poema de Yeats relaciona-se à morte de seu amigo
Kevin O’Higgins, político de origem irlandesa – como o próprio Yeats –,
ocorrida em 10 de julho de 1927.
Expressa o poeta a constatação pura e simples de que, ao contrário dos
animais, nós, seres humanos, somos conscientes de nossa mortalidade,
utilizando-nos dela, muitas das vezes, para convertê-la em obras de arte de
valor, em vista da dor e do abatimento que suscita.
Yeats reporta-se, do mesmo modo, às inúmeras mortes simbólicas pelas
quais passamos em vida, apenas para nos renovar e podermos continuar a lida,
este que é um dos muitos significados atribuídos à morte, além do convencional,
é claro, envolto em exéquias, rituais e lamentos.
J.A.R. – H.C.
W. B. Yeats
(1865-1939)
Death
Nor dread nor hope
attend
A dying animal;
A man awaits his end
Dreading and hoping
all;
Many times he died,
Many times rose
again.
A great man in his
pride
Confronting murderous
men
Casts derision upon
Supersession of
breath;
He knows death to the
boné –
Man has created
death.
(Jacques-Louis David:
pintor francês)
Morte
Um bicho à morte
ignora
ânsia e temor;
contudo
um homem, quando é
hora,
anseia e teme tudo;
morreu vezes sem
conta
e ergueu-se redivivo.
Um grande homem
confronta
gente homicida,
altivo,
escarnecendo o corte
do alento. Convivera
com a morte a vida
inteira:
o homem criou a
morte.
Referência:
YEATS, William Butler. Death / Morte. Tradução
de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos.
Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. Em inglês: p. 104; em português: p. 105.
(Coleção “Lazuli”)
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