A Índia aparece em suas manifestações culturais, em especial de dança e
teatro, neste poema do vate recifense – Bharatanatyam, Kathakali, Manipuri –; e
não só, pois Cardozo também menciona Shanta Rao e Lalitha, duas artistas daquele
distante país, que se tornaram famosas no universo da dança.
Não é improvável que o poeta tenha redigido este poema depois de haver
assistido a um espetáculo misto de dança e música, pois, mais à frente,
volta-se a outras referências, como as do renomado dançarino russo Nijinski,
que deu giros novidadeiros à coreografia do balé, quando ainda pertencia à
Companhia de Diaghilew, de quem, logo após, se afastou, para nunca mais retomar
o seu equilíbrio mental.
J.A.R. – H.C.
Joaquim Cardozo
(1897-1978)
A Dança dos Círculos
O círculo circula, e
em círculo dançando
Se desfaz, se
dissolve em vários andamentos.
Essa dança relembra o
Bharatanatyam
Essa dança insinua o
Kathakali
Essa dança é gesto
jogralesco do Manipuri.
Quanta dança sugerem
no seu desdobramento
Esses círculos se
fazendo e refazendo?
Estaria perdida em
meio dessas linhas
A grande bailarina
Shanta Rao?
Ou, quem sabe? entre
os círculos esteja
Lalitha, com a perna
estendida,
Dançando o
Bharatanatyam.
Ou ainda um mímico
compondo o Manipuri.
Nessas evoluções
circulares há passo e contrapasso
Há saltos e ressaltos
de Nijinski
Realizando com seu
gênio
Os bailados e os
sonhos Diaghilew.
Todos esses discos,
todos esses círculos
Percorridos pelos pés
dos dançarinos,
Invisíveis e
imprecisos,
Dão a medida
principal da partitura;
Dão a música sonora
feita em linhas,
Que estremece na mais
sutil das harmonias:
O equilíbrio entre o
som e o movimento.
A Dança
(Henri Matisse:
artista francês)
Referência:
CARDOZO, Joaquim. A dança dos círculos.
In: __________. Joaquim Cardozo:
poesia completa e prosa. Volume único. Rio de Janeiro, RJ: Nova Aguilar; Recife,
PE: Massangana, 2007. p. 316. (Biblioteca Luso-Brasileira; Série Brasileira)
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